APL 660 A Cova da Moura
Soalheirenta e linda, a risonha povoação de Segura sabe manter sem adulteração, não obstante o seu contacto diário com as vizinhas povoações espanholas de Sarsa, Pedras Alvas e Alcântara, velhos costumes e velhas tradições bem nacionais, bem portuguesas.
Na margem direita do ribeiro da Fontainha, que corre a Poente, ao lado da estrada internacional, elevam-se grandes penedos.
Entre eles, acção dos elementos, obra da Natureza, abre sua boca estreita, uma pequena gruta.
O povo chama-lhe de há séculos, a Cova da Moura.
Porque ali ficasse presa, eternamente presa, à espera do seu bem amado, uma dessas tão surpreendentes filhas de Maomé que a imaginação do povo criou e perpetua em lendas e contos fantásticos?
Quem depois do pôr do Sol se aproximar do cantchal do ribeiro da Fontainha, ouvirá, como vindo de muito longe, do interior da rocha ou das profundezas da Terra, uma guisalheira infernal produzida pelo som de muitas e diferentes campainhas e chocalhos.
É o prenúncio, o sinal certo do aparecimento da Moura.
Mas, contra o que geralmente acontece com as suas esbeltas irmãs que por esse Portugal além sofrem cativeiro de encantamento, a Moura de Segura não vem receber as suas visitas com palavras de amor, ofertas valiosas ou pedido de salvamento...
Se o curioso que a visitar, depois de ouvir a guisalhada, persistir em perscrutar o segredo da rocha, pagará com a vida o atrevimento, porque ela não demorará a esmagá-lo impiedosamente com uma enorme cacheira de ferro.
Que estranho encanto é o desta beldade que acima de tudo, e ao contrário das suas lindas irmãs dispersas por velhos castelos e montes inóspitos do nosso lindo Portugal, deseja e quer o isolamento, o encantamento?
Ignora-o o povo de Segura, que, português e sonhador, receia a Moura do Ribeiro da Fontainha, embora continue a afirmar que nenhuma há mais bela e mais linda.
- Source
- DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira Coimbra, Alma Azul, 2002 , p.68-69
- Place of collection
- Segura, IDANHA-A-NOVA, CASTELO BRANCO