APL 1430 Uma junta de bois para o Espírito Santo
Antigamente, as pessoas da Flores costumavam comprar no Corvo os bois para matar para o bodo do Espírito Santo. A dada altura do ano, ia alguém da comissão à ilha vizinha, escolhia os bois que achava mais bonitos e comprava-os. Mas deixava-os lá a engordar até serem trazidos para as Flores, nas vésperas da festa.
Ora um certo ano, chegou-se à quinta-feira e o mar embraveceu. O barco em que iam fazer a viagem era pequeno e fraco e não aguentava com ondas daquele tamanho. Ficaram todos consumidos sem saber o que haviam de fazer à sua vida e pensaram que só se fossem à roda da ilha ver se encontravam outra junta de bois. Mas o tempo faltava e não tinham dinheiro para gastar com outros animais. Os da comissão e outras pessoas tinham-se juntado para os lados de S. Pedro, em Santa Cruz, perto da costa, onde melhor podiam vigiar o mar.
Estavam a discutir o que haviam de fazer, quando dois bois gordos e grandes apareceram ali ao pé deles, todos alagados e a tremer de frio. Os homens começaram a perguntar uns aos outros:
— Lindos bichos! De quem serão?
— De onde terão vindo para estarem assim todos alagados e enregelados?
Mas ninguém sabia dar resposta. Um dos homens chegou-se para eles, passou-lhes a mão pelo cabelo do lombo e depois levou o dedo molhado à boca. Aquilo era de água salgada.
Gerou-se um grande burburinho, pois as pessoas compreenderam que eram os bois que tinham comprado no Corvo, que se tinham atirado à água e nadado várias milhas entre o Corvo e as Flores, para se virem entregar para que se cumprisse a promessa ao Espírito Santo.
A notícia espalhou-se. Todos louvavam o Senhor Espírito Santo e a festa naquele ano e nos seguintes foi feita ainda com mais alegria e fé.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.279
- Place of collection
- Santa Cruz Das Flores, SANTA CRUZ DAS FLORES, ILHA DAS FLORES (AÇORES)