APL 1923 [Promessa ao Divino Espírito Santo]

 O povo açoreano é essencialmente um povo religioso e com uma multissecular fé e devoção ao Divino Espírito Santo.
 O Divino Espírito Santo que foi algo que veio através dos povoadores e por intermédio da Santa Isabel.
 Todos os anos é a festa que mais irmãos açoreanos de Santa Maria acolhe.
 E há essa tradição de quando uma pessoa se sente aflita na vida, circunstâncias que tiveram a ver com o próprio facto de as ilhas serem vulcânicas e de vez em quando tremer.
 Portanto eles faziam promessas. E há ainda o facto da questão da saúde, a pessoa sentir-se doente e prometer algo, há o facto também, de no tempo da guerra um pai ou uma mãe ter um filho que vai para a guerra e portanto, faz uma promessa de se ele voltar que se faz uma festa ao Espírito Santo.
 A festa consiste praticamente em matar um bezerro, coze-se massa e cevada e faz-se uma festa. Convidam-se amigos, é tudo gratuitamente oferecido com vinhos e essas coisas.
 E portanto, e um caso muito curioso sobre esse aspecto, foi um senhor que enfrentou uma situação e fez uma promessa de que realmente, se lhe fosse concedida essa graça (que não sei para o caso qual foi) que faria uma festa dessas.
E ele foi ao quintal ou ao estábulo e viu realmente, estava lá um bezerro muito novo e prometeu. Disse que aquele bezerro seria criado e seria oferecido ao Divino Espírito Santo. Ia ser criado [e] na altura própria matava-se e fazia-se uma festa.
Só que chegada a altura de se fazer a festa, ele viu que o bezerro estava muito lindo e arrependeu-se, quer dizer, voltou com a sua palavra atrás e esqueceu-se, não resolveu fazer nada.
Segue-se que um dia ou dois depois o bezerro desapareceu.
O bezerro desapareceu e ele andou à procura, enfim, desesperadamente pelo bezerro. E o bezerro só apareceu no dia que seria marcada a festa e no lugar do matadouro, portanto entregando-se à morte.
Isto é basicamente esta lição que dá muito que reflectir. E que realmente diz desse mistério, que é o mistério da santíssima Trindade, em que nós fazemos essa promessa e há algo muito poderoso que cai-nos em cima.
E realmente chama a atenção  das implicações, porque nós muitas vezes fazemos coisas na leviandade – “eu faço isto, eu faço aquilo”, mas às vezes não pensamos bem na profundidade daquilo que estamos metidos, digamos assim.

Source
AZEVEDO, Ana A Literatura Oral na Comunidade Emigrante Portuguesa em Montreal Faro, Universidade do Algarve, 2002 , p.# 75
Year
2001
Place of collection
PONTA DELGADA, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)
Informant
António Valhacorba (M), 60 y.o., born at PONTA DELGADA (ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography