APL 1877 Levanta-te, ó homem morto!
Contam os antigos que um dia, quando Santo António ainda não era santo, o seu pai foi preso e condenado à forca por ter sido acusado de matar um homem na sua terra. Estava então Santo António a rezar missa na sua paróquia em Pádua, na Itália, e pressentiu que, naquele momento, no seu país ia a enterrar o homem que fora vítima do crime.
Por isso, pediu aos paroquianos que ficassem a rezar um Padre Nosso e uma Avé Maria pois precisava muito de ir a um certo sítio. Vestiu então a sua capa e, num instante, veio de Itália à sua terra a tempo de se encontrar com o funeral que ia a caminho do cemitério.
Ao chegar ao caminho por onde ia a passar o enterro, pôs-se à sua frente para que parasse e, dirigindo-se ao morto, disse estas palavras:
Levanta-te, ó homem morto,
Das portas do Omnipotente,
Diz aqui quem te matou,
Diante de toda a gente.”
Nesse momento o morto ergueu-se do esquife e respondeu:
O homem que me matou,
Aqui no adjunto vem,
Mas não quer o Rei da Glória
Que eu o descubra a ninguém.”
O povo que ia no acompanhamento ficou de boca aberta com o que estava a ver e a ouvir. E toda a gente ficou também a saber que o homem que estava preso à espera da forca era inocente. Por isso, naquele mesmo dia foi posto em liberdade.
Quanto a Santo António, acabadas as palavras do morto, desapareceu com a mesma rapidez com que tinha chegado. E quando subiu de novo ao púlpito em Itália para terminar a missa, levava na sua capa alguns flocos de neve. Disse então ele:
— Muita neve cai na serra da Sanábria!
Os paroquianos, que já conheciam a sua fama de santidade, logo acreditaram que ele tinha ido fazer mais um milagre.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisbon, Plátano Editora, 2001 , p.56-57
- Year
- 1999
- Place of collection
- VILA POUCA DE AGUIAR, VILA REAL
- Informant
- Maria Teresa Saraiva (F), 52 y.o., VILA POUCA DE AGUIAR (VILA REAL),