APL 236 Lenda do furão raivoso

Um homem que morava em Pedroso, no caminho do Porto, freguesia a confinar com a de Grijó, tinha um furão.
 Porém, um dia, o bicho ficou raivoso e, de noite, mordeu-lhe um filho.
 Aquele bom homem, desorientado com o facto, sem saber o que havia de fazer para salvar o descendente, decidiu por causa disso matar-se.
 Na agitação das suas lucubrações, durante a madrugada, apareceu-lhe um frade de S. Domingos.
 E chegando com ele à fala perguntou-lhe se dormia.
 O homem, que estava ali mais morto que vivo, profundamente perturbado, respondeu ao frade assegurando-lhe que estava acordado, a cismar na sua desgraça. 
 Então, o frade, incutiu serenidade àquele homem desesperado, recomendando-lhe que fosse com o filho ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra a procurar o sacristão para lhe pedir água dos mártires que lá jaziam e tinham morrido em Marrocos pela fé de Jesus Cristo pois, logo que bebesse o líquido, a criança seria curada.
 E diz-se que — em face de tal revelação e testemunho — o homem foi com o filho para Coimbra e, conseguindo este a água, logo ao bebê-la recobrou a saúde.