APL 1916 As pintas de sangue na levedura do pão

Nos domingos e dias feriados o povo rural ainda hoje cumpre a tradição de não ir para o campo trabalhar. E é de tal forma o respeito por esses dias, que há certos feriados em que nem no campo nem em casa o povo trabalha. Assim acontece na Sexta-Feira Santa.
 Contam os antigos que em Rebordelo, Vinhais, uma mulher resolveu não guardar o feriado de Sexta-Feira Santa e, desdenhando dos seus vizinhos, disse:
 — Ides ver se eu vou ou não cozer hoje o meu pão!
 Pôs-se então a amassar a farinha, e, quando já ela estava a levedar, apareceu-lhe na masseira o formato de uma hóstia salpicada com pintas de sangue. A mulher ficou admirada, mas não se importou muito com isso. Vai daí, despejou a farinha e pôs-se a amassar outra, para tentar fazer o trabalho que tinha começado. Contudo, na masseira voltou a aparecer uma hóstia com pintas de sangue.
 Muito aflita, correu a casa do padre para se confessar e pedir a sua ajuda. O padre disse-lhe:
 — Se estás arrependida do que fizeste, vai para casa, coze todo o pão que amassaste e vai depois distribuí-lo pelos pobres da aldeia.
 Ela assim fez. E nunca mais voltou a encontrar daqueles sinais na levedura do pão.

Source
PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisbon, Plátano Editora, 2001 , p.58
Year
1990
Place of collection
VINHAIS, BRAGANÇA
Informant
Guilhermino Bernardino Fernandes (M), 70 y.o., VINHAIS (BRAGANÇA),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography