APL 1392 A vaca para o Espírito Santo

Meu pai contava que há muitos anos, um homem da Calheta tinha feito a promessa de dar um gasto de coroa pelo Espírito Santo. Para isso, e porque não tinha pasto seu, foi levar uma vaquinha à serra para que ela lá ficasse durante o Verão e engordasse.
 De vez em quando o homem ia vê-la e vinha sempre satisfeito porque o animal engordava a olhos vistos. Mas, de uma certa vez, o homem chegou à serra e a vaca tinha-se desmanado. O homem procurou por todo o lado, mas havia buracos, mofas e outros lugares que tornavam custosa a busca. O homem deu a vaca como morta e ficou com muito pesar porque era pobre e não podia comprar outra.
 Passados anos, quando o homem conseguiu juntar dinheiro bastante, porque o prometido é devido, comprou outra vaca para pagar a sua promessa.
 Na semana antes do domingo de Espírito Santo, juntou-se em casa do dito homem muitos poderes de gente: a família, os vizinhos e os amigos. Enjeiraram-se todos e cozeram o pão da mesa, o pão de água para fazer as sopas e foram arranjando tudo para que o gasto corresse bem. Na sexta-feira, quando já os homens estavam enjeirados para matar a segunda vaca que o homem tinha comprado, viram vir pelo caminho abaixo alguns animais que se vieram chegando. O mordomo viu que se tratava da vaca que lhe tinha desaparecido na serra e trazia atrás de si sete crias. Os animais chegaram-se para o lugar onde deviam ser mortos, como a oferecer-se e toda a gente se benzia e louvava o Senhor Espírito Santo pelo milagre. Mataram o gado e naquele gasto de coroa houve poderes de carne, vinho e sopas para todos comerem à farta.