APL 1240 A roseira sempre florida

Decorria o século dezasseis e Madre Teresa da Anunciada vivia recolhida no convento em cuja capela é hoje venerada a Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres. A santa religiosa passava a vida a rezar e a conseguir os meios para a construção de uma capela nova. A sua alma enchia-se de alegria ao olhar a expressiva imagem toda adornada das mais belas flores, abundantes na verdejante ilha de S. Miguel.
 Naquele Verão o tempo tinha sido muito seco e as rosas, cravos ou margaridas dificilmente desabrochavam nos jardins do convento e, quando nasciam, eram raquíticas, sem brilho e cor. Este pequeno contratempo e a falta de meios para continuar a construção da capela entristeciam a alma de Madre Teresa. Mas mesmo assim não desistia. Constantemente limpava os jardins e dispunha novas plantas, pretendendo flores bonitas não só para enfeitar a imagem, mas também para vender e alcançar dinheiro para pagar algumas despesas.
 Numa manhã de quarta-feira, levantou-se muito cedo, como era seu dever e hábito. Rezou, ouviu missa e dirigiu-se ao jardim para cuidar das suas plantas. Aproximou-se da vara de roseira mergulhada no domingo anterior, com a ideia de lhe aconchegar a terra ou de a humedecer com alguma água. Ajoelhou de emoção, quando os seus olhos presenciaram um espectáculo inesperado: na vara de roseira tinha desabrochado a mais linda rosa que alguma vez tinha visto. Colheu-a e correu emocionada a depô-la no altar de Santo Cristo: Prostrou-se a seus pés, agradecendo a dádiva que lhe tinha sido concedida.
 Passados poucos dias, a roseira encheu-se de lindos botões, apesar de ainda não ter desenvolvido raízes e da intensa seca do Verão. Durante muitos anos assim continuou, sempre florida.
 Madre Teresa morreu e a roseira, chegando o tempo, secou-se, mas as suas raízes foram religiosamente guardadas: Deixou um rebento seu e uma descendente ainda lá está na calma do jardim do Convento da Esperança, oferecendo sempre algumas rosas que as religiosas usam para pôr ao Senhor Santo Cristo dos Milagres ou para oferecer às doentes do hospital de S. José, que logo se sentem confortadas.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.64
Place of collection
PONTA DELGADA, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)
Narrative
When
16 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography