APL 664 A Rainha Santa, as Rosas e o Pobrezinho

Indo a Rainha Santa com o seu regaço cheio de esmolas, o Rei disse:
 — Que levais aí, Rainha Isabel? São os meus dinheiros?
 Ela, abrindo o regaço, lhe respondeu:
 — São cravos e rosas o que aqui levo.
 — Cravos e rosas em Janeiro?... Maravilha é vê-los!
 Neste momento, depois de o Rei se ter afastado, apareceu um pobrezinho cheio de chagas a pedir esmola.
 A Rainha Isabel lhe disse:
 Pobrezinho, as tuas chagas não têm cura?
 — Teriam, Senhora, se fossem lavadas por vossas mãos.
 — Vem cá, pobrezinho.
 E levou-o para o quarto do Rei, e na bacia do Rei o lavou, na toalha do Rei o alimpou e na cama do Rei o deitou.
 O Rei, sabendo do acontecido, lhe disse:
 — Rainha Isabel. Lá me foram contar das cortesias que tu usaste para com o pobre cheio de chagas: na minha bacia o lavaste, na minha toalha o alimpaste e na minha cama o deitaste!
 Não teve a Rainha Isabel resposta para lhe dar, e, correndo toda apoquentada ao quarto do Rei, ali encontrou o pobre pregado numa cruz.
 E veio para fora:
 — Venham cá todos, venham cá todos os que se acharem no meu palácio! Venham a ver o pobre cheio de chagas, na bacia do Rei lavado, na toalha do Rei alimpado, na cama do Rei deitado e ali o vereis crucificado.
 Ficando o Rei muito comovido, lhe disse:
 — Rainha Santa Isabel, todo o meu dinheiro podeis gastar e a minha coroa empenhar!

Source
DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira Coimbra, Alma Azul, 2002 , p.76-77
Place of collection
CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography