APL 1368 A Ponta Furada
Há muitos anos atrás, S. José vivia lá para o Norte de S. Jorge. Um belo dia meteu-se Nortes abaixo no seu barquinho, trazendo consigo Nossa Senhora e o Menino Jesus ainda pequenino. O mar estava manso e o santo vinha sempre a navegar junto à costa para apanhar a abrigada de terra.
Tudo correu muito bem até que a Sagrada Família chegou próximo da Ponta do Garajau. Aí deparou-se com uma ponta de terra muito alta que entrava pelo mar dentro. S. José estava ansioso por chegar ao Toledo e já se sentia cansado de tanto remar. Ter agora que contornar a ponta de terra era-lhe muito difícil.
Pensou no que havia de fazer. Sem muitas demoras e confiante no poder de Deus, levantou o dedo indicador e com ele tocou mais ou menos a meio da ponta. Como se fosse um bocado de massa de milho, logo a terra cedeu e fez-se um buraco enorme por onde passou facilmente a Sagrada Família no seu barquinho.
S. José, feliz, avançou e em pouco tempo estava no Toledo, onde fixou residência para sempre. Tornou-se muito querido do povo ao ponto de ser feito padroeiro do curato.
Essa ponta que está situada entre Santo António e o Toledo ficou com um buraco arredondado no meio como se fosse um olho de peixe, mas tão grande que o seu diâmetro tem a altura da torre da igreja. A parte da ponta que S. José empurrou com o dedo ficou um pouco à frente, formando um pequeno ilhéu que emerge ligeiramente das águas.
A ponta, pouco a pouco, pelo seu formato, fruto de um acontecimento tão estranho, passou a chamar-se Ponta Furada.
S. José ainda hoje é um Santo de muita devoção no lugar do Toledo e por isso assim canta o povo:
Este povo tem fé
No bondoso S. José
Que é o seu padroeiro.
S. José é meu padrinho
Que eu adoro com carinho
E no céu é o primeiro.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.205-206
- Place of collection
- Santo Antão, CALHETA DE SÃO JORGE, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)