APL 1195 A lenda do Justo Juízo

Um pobre pastor costumava rezar o Justo Juízo todos os dias. Tendo cortado relações com um companheiro de má índole sabia que êste o procurava tôdas as noites para o matar. Uma noite principiou a dizer a oração e adormeceu. O companheiro tendo-o visto entrar para a carreta foi-se aproximando, devagar, de navalha em punho; abriu a portinhola e qual o espanto, quando viu apenas metade do corpo do pobre pastor; e, retirando, disse: vinha, para te matar, mas não é preciso; já outro o fez. No dia seguinte encontrou o pastor a guardar o rebanho; admirado, preguntou-lhe que oração costumava dizer todos os dias. — O Justo Juízo, respondeu-lhe. — Pôis olha, havia tantos dias que vinha à carreta para te matar e hontem à noite, vindo com a mesma intenção, não o fiz porque te vi só metade do corpo e julguei que outrem o tivesse já feito. — Foi porque me adormeci a meio do responso. — Ensina-mo e perdôa-me que eu te perdôo a ti também.

Source
MARTINS, Pe. Firmino Folklore do Concelho de Vinhais. Vol. 1 s/l, Câmara Municipal de Vinhais, 1987 [1928] , p.95-96
Place of collection
VINHAIS, BRAGANÇA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography