APL 1317 A Imagem do Menino Jesus da Real Protecção

Era ao cair de uma tarde nevoenta e húmida de Dezembro, de um dos Natais dos finais do século dezasseis. No Convento das Freiras de Jesus, na Praia, faziam-se todos os preparativos para a noite de festa.
 Quase ao anoitecer, uma pobre velhinha de aspecto bondoso bateu à porta, implorando uma esmola de pão em troca de uma pequenina imagem do Menino Jesus, que trazia na mão, sobre uma caminha feita de folhas.
 As freiras, muito satisfeitas, ofereceram à mendiga pousada para a noite e deram-lhe uma farta ceia de rala.
 Depois das celebrações religiosas do nascimento de Jesus, todas se recolheram à cama até ao romper da aurora do dia seguinte.
 Quando levantaram, tiveram o cuidado de ir ver como se encontrava a velhinha. Algumas dirigiram-se à cela onde tinham alojado a pedinte, mas, para espanto de todas, não havia ninguém. A velhinha desaparecera e a cama, inexplicavelmente, encontrava-se coberta de macias pétalas de rosas. Esforçaram-se por pedir informações às pessoas sobre a misteriosa velhinha, mas ninguém a tinha visto ou a conhecia. Concluíram que se tratava da Virgem Nossa Senhora, que viera oferecer às freiras o seu Menino.
 Esse Menino Jesus foi para uma capela própria, num convento da vila da Praia e operou muitos milagres, principalmente na infanta, filha de D. Pedro II, que nascera a seis de Janeiro com uma compleição muito fraca.
 Por ordem real, nesse dia, durante muitos anos, houve brilhantes festas em honra ao Menino Jesus, que atraíam o povo de toda a ilha. Anos mais tarde a pequena imagem foi colocada num rico berço de prata lavrada e ainda hoje assim se encontra na igreja Matriz da cidade da Praia. Por ter tido muita influência na família real e ter sido estimado por ela, passou a chamar-se-lhe Menino Jesus da Real Protecção.