APL 32 Uma maneira de quebrar o “fado”
Quando nascem sete filhos todos do sexo masculino, o sétimo está fadado para lobisomem. Se são cinco raparigas seguidas é a quinta que é bruxa. Logo que nascem, tanto num caso como noutro, terão que ser picados no dedo mindinho para desfazer o encanto.
Uma noite o meu sogro estava no moinho a moer farinha e chamou o meu marido, porque, no lugar onde se iam espolinhar os burros que ele tinha para acartar as “taleiguinhas”, estava a espolinhar-se, nu, um homem que se transformou em burro. As roupas estavam amarradas com cordas a um salgueiro. O meu sogro cortou as cordas, o que teve como consequência cortar-lhe o “fado”. O burro, que tinha acabado de surgir, depressa retornou à forma de homem. Ele agradeceu muito o bem que lhe tinham feito, mas há-os que não agradecem e procuram vingar-se.
O meu sogro teve muita sorte porque, quando estão na forma de burro, os lobisomens têm que cumprir o seu “signo”: precisam de comer um coração vivo — nem que seja o duma mosca — para poderem voltar à forma humana, o que acontece geralmente à volta da meia-noite, às terças e sextas-feiras. Isto de lobisomens não é um feitiço: é um signo.
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística Tarouca, Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.28
- Place of collection
- Ucanha, TAROUCA, VISEU
- Informant
- Maria da Conceição Loureiro (F), Ucanha (TAROUCA),