APL 1341 Porco ou lobisomem

Na Praia, uma certa vez, estava uma criancinha deitada no seu bercinho. As portas estavam abertas para a rua e era no tempo em que animais domésticos como galinhas, porcos, patos, entravam nas casas, sendo mesmo alguns deles criados na cozinha, ou tratados no aconchego do calor de lume quando estavam doentes.
 Um porco, que andava por ali, entrou em casa. Roncava com fome e pôs-se a roer as roupas que foi encontrando. Depois começou a rondar o berço do bebé e pôs-se a puxar os cobertores e a roê-los. Comeu mesmo parte das roupinhas que o bebé tinha vestidas, mas não fez mal nenhum à criança.
 A mãe ou um irmão mais velho chegou e, ao ver o bicho ali a fossar na criança, julgou que ele já o tivesse ferido. Deu um grito muito aflito e enxotou o animal para bem longe. Depois certificou-se que nada tinha acontecido ao menino.
 Daí a bocado, entrou em casa uma pessoa da família e, ao olhar para ela, estranharam que trouxesse pedacinhos de cobertor e de roupas presos nos dentes.
 Ficaram amedrontados e tristes, quando vieram a compreender que aquela pessoa de família ainda há momentos atrás estava transformada em porco e que tinha o infeliz fado de ser lobisomem e de se transformar, em determinadas alturas, no primeiro animal que encontrava no caminho, tudo isto porque era o oitavo filho macho da família.