APL 1151 Os lobisomens

Diz-nos alguém: quando eu era novo e trabalhava no campo fiz algumas “cepas” com alguns lobisomens. Um deles, quando caía o dia nas segundas-feiras começava apegar com a mulher e com os trabalhadores, andava por lá com uma grande “perneta”, punha-se a “hurrer” com os bois. Sextas-feiras o homem começava com a mesma maluqueira, a partir da tarde começava a andar como chapéu-de-chuva atrás de nós.
 Andava por ali deambulando ribeiro abaixo ribeiro acima, ao pôr-do-sol andava aos “hurros” como os bois. No dia seguinte só aparecia às seis da manhã, mas por vezes andava por lá “cabaço” metido no meio do matagal e ficava lá até ao outro dia à noite, só aparecia em casa para cear. Ainda eu lá trabalhava quando foi para lá outro homem que também diziam ser lobisomem, tal como o anterior pouco trabalhava.
 Ele batia muito à mulher e aos filhos e a mulher andava sempre a caminho da “benzelhoa”. Certa vez a “benzelhoa” disse para a mulher que ele ainda havia de ser morto pelo boi. Não é que veio a acontecer mesmo isso; um dia ele foi dar com um pau no focinho do boi, o boi, deitou-se a ele e ele ficou como morto.
 Depois disto só durou uns dois anos, andava sempre doente.

Source
MOURA, José Carlos Duarte Histórias e Superstições na Beira Baixa Castelo Branco, RVJ editores, 2008 , p.11-12
Place of collection
Penha Garcia, IDANHA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography