APL 1830 O Homem Burro
O meu pai, uma vez, com os irmãos dele, andavam guardando os porcos. No outro tempo, já sabes, a vida era a guardar porcos.
Andava o meu pai, era assim moço de quinze anos, outro de dezasseis, outro de dezassete, era assim logo a seguir uns dos outros. E andava o meu pai com os irmãos a guardar os porcos.
E então foram ali p’ro lado de...sim, um bocadinho mais longe de casa, andava um homenzinho também a guardar umas ovelhas. Andava um homenzinho a guardar ovelhas e eles sabiam, ouviam contar que o homem era bruxo, era bruxo. E então começaram-se a meter com o homem, um homem assim mais velho e os moços gostavam de se meter com ele, a jogar pedradinhas e a se meter com o homem e a gozar com o homem.
E então diz o homem assim:
- Vocês deixem-se estar quietos, senão vocês ainda vão aí chorar! Não me atentem! - dizia o homem.
Oh, vá de os moços gozarem com o homem. Quando o homem começa-se, diz o meu pai que o homem (isto, o meu pai contava isto, de verdade) começa-se a encolher e a estender e a encolher e a estender e a encolher e a estender. Quando ele faz-se num burro, com as quatro patinhas e tudo. Começa aos coices com os moços, começa aos coices. Os moços já não sabiam aonde é que se haviam de meter, chegaram a casa todos borrados, todos mijados e os porcos por lá ficaram abandonados.
Lá teve que a minha avó ir com eles p’ra ver onde é que estava esse homem que fez-se num burro. Chegou lá andava o homem no pasto por aí (?) a guardar as ovelhas. E então, quando a minha avó viu quem era o homem, já sabia que ele era um grande lobisomem, e disse:
- Para a outra vez não se metam com ele.
O homem era mesmo bruxo, era mesmo, mesmo...
E foi esta coisa que aconteceu.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Year
- 2000
- Place of collection
- Olhão, OLHÃO, FARO
- Collector
- Sandra Boto (F)
- Informant
- Maria Perpétua Lopes de Jesus (F), 67 y.o., born at Olhão (OLHÃO),