APL 2534 O desencantamento de um jovem lobisomem

Esta era falada em casa dos meus pais. A minha mãe falava [que em] certa determinada zona que havia uma família que tinha um filho, homem. E então, a mãe tinha um grande desgosto do que se estava a passar com o filho. E então o que acontecia [era que] ele principalmente às sextas-feiras à noite, parece que eram terças e sextas, saía, e só entrava às tantas da madrugada. Começou-se a falar que o filho da senhora que era também um lobisomem. Ora ela, coitada, tinha um grande desgosto e então aconselharam, ensinaram-lhe a fazer uma mezinha ao filho. Mas que tivesse o máximo dos cuidados porque era assim: ela tinha que acender o forno no dia que ele fosse sair. Já sabia o dia em que ele ia sair à noite. Acendia o forno e ele, a uma determinada zona, despia a roupa dele, que era para se transformar no tido lobisomem. Despia a roupa dele. A mãe ou o pai ou... pronto, combinado com alguém, tinham já próximo para poder alcançar a roupa. Mas tinham que fazer aquilo muito rápido e ter que fechar portas e janelas, tudo trancado o mais rigor[osamente] possível, porque ele assim que a roupa dele... e depois vinham com a roupa dele e jogavam para dentro do forno que estava a arder. Automaticamente ele tirava-lhe essa, não sei se era uma virtude, se o que é que ele tinha. Isso de se transformar em lobisomem. Ao queimarem-lhe a roupa, queimavam-lhe, destruíram-lhe essa virtude que ele tinha. E então o que é que acontecia? Ele regressava furioso, naquela loucura que estavam a tirar essa, esse poder. E então vinha furioso e havia urros e patadas e coices, tudo quando era portas e janelas. E se não tivessem bem trancados ele entrava e matava o que fosse, tudo, devorava tudo o que apanhava à frente dele. E então diz que foi isso que os pais fizeram e, graças a Deus, o filho ficou bom.