APL 2525 Lobisomem
Fui trabalhar para a fábrica, para Vila Real, maneira que o transporte que era… era as pernas… Havia transporte, mas de Vila Real a Castro Marim era uma légua e pouco; mas eu já fazia aquilo brincando, todos os dias de manhã e de noite, mas havia noites de inverno já de inverno, noites de Inverno, pois já são mais pequenas e a gente, maneira que eu, chegou aí, trabalhámos até fazer serão, até mais tarde, eram onze horas meia-noite passávamos ali sempre ao pé do cemitério em par da Igreja de Santo António. Até que lhe chamam a igreja de Santo António que é o Marvaz ia sozinho as minhas colegas trabalhavam, largavam às cinco horas largavam-se embora para casa e eu ficava sozinho de Castro Marim ficava sozinho e abalava trás, trás, trás, maneira que uma noite senti uns passos por trás de mim sei lá aqueles passos zorrados, que será isto senhores…
Fui para a frente, maneira que aí uns sete ou oito passos ou mais ai a andar, e parece que pesava uma coisa não sabia o que era, não via nada. Senhores o que é isto? Deus me valha, o que se passa aqui? Maneira que apareceu então um gato. Veio ali miau, miau, miau, entre meio das pernas e eu queria-lhe jogar a mão. Fugia para o lado e assim que eu dava dois passos, dava dois passos antes de meter nas pernas e fui andando. Olha, levei três quartos de hora ali do Marvaz até à entrada de Castro Marim, ali três quartos de hora onde é que eu fazia aquilo em cinco minutos de caminho. Maneira que o menino gato, o gato perseguiu-me algumas três ou quatro noites, perseguiu, fui perseguido pelo gato. Digo então: “pá que raio se passa tu contigo, andas-me só a apoquentar tenho que me zangar contigo”.
Maneira que contei à malta da minha idade alguns três ou quatro, digo eu o que havera ser…Vamos, vamos, vamos, vamos duas noites não vimos nada à terceira noite vimos e então apareceu o gato, mas o gato veio a brincar com a gente essa coisa toda. Depois desapareceu o gato, apareceu além um burrinho na nossa frente, no valado. Um burro, digo assim para o descansado do Vivaldo, oh Vivaldo e o burro vamos a cavalo, vamos a montar vamos dar uma voltinha. Maneira que o burro, chegamos ao pé do burro deu um raspingo, mas mansinho daqui e dali ora andamos aí um par de voltas, a gente a cavalo no burro ali nas corridas. Maneira que descemos, maneira que tivemos a conversar, vamos olhar ao burro e já não vimos burro nenhum. E agora o burro foi-se embora que o que se passa, o que se passa? Não disse nada à gente, pois foi-se embora, se a gente vier amanhã, eras moços tínhamos que andar a cavalo, maneira que na outra noite fomos ora o burrinho…
Colectora: Estava lá?
Informante: Íamos andando para aqui para ali, olha já oiço o raspingo aí vem ele, aí vem ele. Bom, aí está o menino! Lá o começamos a coçar daqui dali e zás e zás e zás, lá se montou lá dei uma voltinha e depois veio lá fui eu e depois o outro camarada, mas eu…ouvia coisas que não acreditava, mas acreditei estávamos os três a cavalo no burrinho e eu puxei de uma faca e cortei a orelha do burro, cortei a orelha do burro, é claro não lhe tirei nenhum bocado fiz só um corte na orelha do burro então começou a cair o sangue logo, correu sangue para o chão e o burro desapareceu, nunca mais vimos o burro. Maneira que no outro dia, ao fim de dois ou três dias, falando... Mas o que ele tem na orelha andava com um... ligado a uma orelha, foi à farmácia e essa coisa toda, foi tratado, diz que tinha dado um corte, tinha dado um corte numa orelha…Eu ouvi a conversa fiquei sobressaltado…digo eu assim, diz um assim alguém lhe deu um corte então é lobisomem, é lobisomem, é lobisomem, é lobisomem. Maneira que fui eu que dei o corte ao burro na orelha do burro, mas era um lobisomem, ficou… Já morreu, e ficou curado quebrei-lhe a sina nunca mais vi o burro.
Colector: Nunca mais viu o burro?
Informante: Nunca mais…
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Year
- 2008
- Place of collection
- Castro Marim, CASTRO MARIM, FARO
- Collector
- Ana Catarina Marçal (F)
- Informant
- Joaquim dos Ramos (M), 86 y.o., born at Castro Marim (CASTRO MARIM),