APL 3101 Lenda do lobisomem
Diziam-me as minhas tias e a minha mãe que o meu bisavô, um homem daqui da aldeia [Pombal de Ansiães], muito conceituado e muito amigo dos seus vizinhos, tinha um vizinho que um dia lhe propôs:
— Senhor Zé Pereira, o senhor faz-me um favor?
— Faço, sim senhor. Diz lá o que queres.
— Olhe... é a ver se logo à meia-noite está perto ali de sua casa, no Canelho, com uma aguilhada bem aguçadinha, e, quando sentir a vir um vulto a correr muito, lhe dá uma espetada e lhe faz sangue.
E ele disse:
— Fica descansado, que eu vou fazer-te o favor. E assim esperou. O meu bisavô esperou, até que viu vir aquele vulto a correr. Deu-lhe a espetada e apareceu-lhe ali um homem nu à frente. E disse-lhe:
— Muito obrigada, senhor Zé Pereira. Cobrou-me o meu fado.
E contavam as minhas tias e a minha mãe que o avô tremeu maleitas com o susto que teve, por ter cobrado o fado ao lobisomem.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2010 , p.201
- Year
- 2004
- Place of collection
- Pombal, CARRAZEDA DE ANSIÃES, BRAGANÇA
- Informant
- Maria Florinda Lopes (F), 73 y.o.,