APL 2138 A Luz da Caniceira (1ª versão)

Era urna mulher qu’o homem era boeiro. Guardava bois no campo. E depois ela começou a andar desconfiada porque ele dormia atrás do gado, mas era só às terças e às sextas.
 E depois ela chegou a pontos que nã sabia o que é que havia de fazer e perguntou a uma vizinha ali ao pé. E disse:
 - “Ai vizinha, nã sê o que é que o mê marido tem que, pronto, dorme comigo e às sextas e às terças que vai dormir com o gado”.
 E a vizinha disse assim:
 - “Ai que disparate vizinha! S’ isso é assim você dá-de ver se ele é lobisomem.”
 A mulher foi, pediu a um irmão p’a ir espiá-lo, p’a ir espiá-lo. Viu ele ‘tar-se a transformar.
 E adepois a vizinha disse:
 - “Antão a vizinha agora guarda p’a outra terça-feira, quando ele se for embora, vai vestido de lavado. Porque ele costuma-se a vestir à terça-feira, você, a roupa que ele despir não a lava, vai, acende o forno e quando der meia-noite, a vizinha joga a roupa para o forno a arder”.
 E foi isso que a vizinha fez.
 O homem apois automaticamente já não pôde ser nada, porque ela quebrou-lhe o feitiço. Mas veio p’ra casa e pronto nunca mais foi isso.
 E em soma, pois o homem morreu, ao fim de poucos dias morreu. Apois andava por esse mundo fora correndo com a alma a penari, pousava aqui, pousava além e largava fagulhas e chamavam-lhe a luz da caniceira.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
1996
Place of collection
ALCÁCER DO SAL, SETÚBAL
Collector
Paula Telo (F)
Informant
Ilda Correia Marques (F), 54 y.o., ALCÁCER DO SAL (SETÚBAL),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography