APL 1924 [Lenda das sete cidades]

 Foi há muito tempo, muito tempo mesmo existia um território que fazia parte [...] que se chamava [...]
 Diz-se que após os [...] dos homens, foi da vontade de Deus que tudo aquilo submergisse e só ficaram os cimos das montanhas é que ficaram à tona de água.
 Estas montanhas são as ilhas dos Açores, as nove ilhas dos Açores que é: S, Miguel, St. Maria, Terceira, S. Jorge, Faial, Pico, Graciosa, Flores e Corvo. A maior é a ilha de S. Miguel.
 Ali vivia um rei que tomava conta de todo o território das ilhas. Ele habitava em S. Miguel num luxuoso palácio com uma filha e damas de companhia que serviam de companheiras à sua filha. O rei era viúvo. A filha era linda, muito linda mesmo. Era cabelos loiros, os cabelos caíam sobre os ombros, ela tinha uns olhos lindos azuis. Realmente era de uma beleza incrível.
 Esta princesa queria muito sair do palácio para ir ver o que é que se passava à volta dela, à volta do palácio. Mas o pai era muito autoritário nunca permitiu que ela saísse.
 Mas um dia, ela sozinha toma a decisão de sair. E começa a caminhar, a caminhar, a caminhar.
 A certa altura sentiu-se perdida e ela vê um pastor sentado numa pedra. Ela aproxima-se dele, põe a mão sobre o seu ombro e diz-lhe:
- O que é que tu pensas?
 O pastor levanta a cabeça, vê a princesa, fica espantado com a beleza dela e com os seus olhos azuis.
 Ela também fica verdadeiramente admirada da beleza do pastor que tinha os olhos verdes.
 Então eles os dois juraram amor para toda a vida.
 A princesa voltou ao palácio e foi directamente ter com o rei para contar o que tinha acontecido. O pai pensava que se tratava de um príncipe mas logo que soube que era um pastor ficou furioso e proibiu expressamente a filha de voltar a sair do palácio.
 Mas a princesa, que tinha ficado muito espantada com o pastor foi contar isso à dama de companhia, àquela que ela tinha mais confiança que já tinha sido dama de companhia da sua mãe. E foi-lhe dizer o que se tinha passado para ficar em segredo.
 E então ela pediu à dama de companhia para a acompanhar para ir ao pé do pastor.
 Então as duas damas saíram, para irem ao encontro do pastor , no sítio onde ela [o] tinha encontrado.
 Mas ela não viu nada, nunca mais ela pôde ver o pastor.
 E como ela não o pôde ver mais ficou muito triste e pôs-se a chorar. Chorou muito, muito, muito e como ela tinha os olhos azuis formou-se uma pequenina poça azul. Com as lágrimas dela aquilo foi crescendo e formou-se numa lagoa.
 O pastor, pela sua parte, começou à procura da princesa por todos os lados. Mas nunca mais a viu.
E um dia ele tomou conhecimento que ela tinha morrido à beira do lago. E que ela foi enterrada muito perto do lago.
Então ele começou a chorar muito também. Chorou muito, muito, muito a morte dela e como os seus olhos eram verdes começou a formar uma poçazinha verde que foi crescendo com as lágrimas dele, transformou-se num lago verde.
É assim que nós temos na ilha de S. Miguel duas lagoas encostadas uma a outra que uma é verde e outra é azul.
Uma é dos olhos azuis da princesa e outra é dos olhos verdes do pastor.

Source
AZEVEDO, Ana A Literatura Oral na Comunidade Emigrante Portuguesa em Montreal Faro, Universidade do Algarve, 2002 , p.# 86
Year
2001
Place of collection
PONTA DELGADA, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)
Informant
Natália Rebelo (F), 77 y.o., born at PONTA DELGADA (ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography