APL 1265 Lenda do Senhor Santo Cristo dos Frades

Certo dia, há anos atrás, andavam uns homens a pescar mesmo por fora do porto de Santa Iria, que fica na freguesia da Ribeirinha da Ribeira Grande. Havia que aguentar a remos, lançar a linha, trabalhos que se tornavam agradáveis quando apanhavam peixe. Estavam nesta rotina, quando um dos homens se apercebeu de uma caixa de madeira grande, já quase podre, a boiar na água, mesmo quase a dar à costa.
 Levados pela curiosidade, rebocaram a caixa para o porto e abriram-na. Qual não foi o seu espanto, quando tiraram de lá de dentro uma linda imagem de Cristo. Passados os momentos de assombro, depois de muito discutirem sobre a proveniência e o fim a dar à imagem, resolveram contar o acontecimento às autoridades marítimas. Estas, sem perda de tempo, ordenaram o transporte do precioso achado para Ponta Delgada.
 Arranjaram um carro de bois, carregaram a imagem e lá se puseram a caminho. O carro guinchava, os bois gemiam, porque o porto de Santa Iria fica fundo entre altos calhaus. Mas tudo correu normalmente até à Ribeira Grande. Aí, ao passarem pela Igreja dos Frades, deu-se um caso insólito: os dois bois começaram a mugir e estacaram.
 — Chega, boi! Anda, boi! — gritavam os homens, enquanto incitavam também os animais com pancadas no lombo e picadas da aguilhada. Mas os bois não se mexiam, continuavam agarrados ao chão como se uma barreira lhes tapasse a passagem.
 Perante tão estranho comportamento dos animais, as pessoas que se tinham juntado acharam que havia ali a mão de Deus e que era melhor deixar a imagem do Senhor Santo Cristo na igreja dos Frades ou igreja dos Terceiros em frente à qual os bois se tinham negado a continuar a viagem com a imagem.
 Desceram-na do carro, cuidadosamente, e levaram-na para a igreja. Depois tocaram os bois que desataram a andar e não mais se negaram a continuar viagem. A imagem ficou para sempre na Igreja dos Frades e ainda hoje lá está.