APL 647 Santa Marta

No ponto culminante da serra que se chama de Santa Marta, apareceu outrora, abrigada em pequena choça, uma imagem de pedra.
 Sua origem ninguém a sabe.
 O que o povo afirma na tradição de alguns séculos, é que um desassisado, condoído do estado de abandono a que a imagem fora votada, juntou pedras para uma capelinha, que construiu, e onde a recolheu.
 Tempos antigos em que a serra, em razão dos matagais, era quase inacessível, tempos de feras que por vezes investiam contra os próprios povoados, jamais o pobre louco sofreu qualquer dano.
 A serra é extensa e a pedra distante; e por isso, ele subiu e desceu, dezenas, centenas, senão milhares de vezes a encosta, no desempenho da sua missão, sem que os lobos, que ali perto assaltavam os rebanhos, o molestassem.
 Os anos passaram, e quatro pastores, sem dúvida mais selvagens que as próprias feras, destruíram num dia toda a obra do devotado servo de Santa Marta, fazendo desaparecer a capelinha e a imagem.
 A indignação do povo foi grande, e os sacrílegos destruidores obrigados a pagar quatro libras para a reconstrução da capelinha e aquisição de nova imagem. Novo templo foi então construido e nova imagem foi comprada!
 E por isso, ainda hoje, pontinho branco visível de toda a região que vai de Idanha-a-Nova a Alpedrinha, à Capinha e a Monsanto, e de quase todo o concelho de Penamacor, lá está no mais alto da sua serra, a Senhora Santa Maria, advogada e protectora dos moradores de Benquerença.

Source
DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira Coimbra, Alma Azul, 2002 , p.33-34
Place of collection
Benquerença, PENAMACOR, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography