APL 374 Santa Iria

Era uma vez.., ali para os lados da Torre havia um lugar chamado Magueixa.
 Lá viviam Ermígio e sua mulher Eugénia Magueixa, assim apelidada por ter nascido naquele pequeno lugar.
 Como eram muito trabalhadores e económicos, juntaram uns dinheiros e construíram uma casa a que o povo passou a chamar a Torre da Magueixa, em lembrança do nome da mulher de Ermígio.
 Tempos depois nasceu naquela casa uma menina a quem seus pais puseram o nome de Iria.
 Passaram os anos da infância de Iria. E, um dia, os pais mandaram-na para um recolhimento de uma terra chamada Nabância — é hoje a cidade de Tomar — onde viviam duas tias de Iria, irmãs do pai Ermígio, que se chamavam Casta e Júlia.
 Em Nabância também vivia um outro parente de Iria que era abade dos Religiosos de S. Bento e que recomendou Iria a um santo monge chamado Remígio.
 Iria mostrara sempre uma profunda Fé, uma devoção total, e, por isso, muito bondosa e caridosa, começou a tomar-se notada pelos seus sentimentos cristãos.
 Tão profundamente sentia a Verdade pregada por Cristo que procurava a clausura para melhor se sentir junto de Deus, e só saia no dia de S. Pedro para ir rezar na Igreja deste Apóstolo.
 Por aquele tempo vivia em Nabância um jovem chamado Britaldo, filho do Govemador, que ao ver na Igreja de São Pedro a Iria, muito linda, muito formosa, se apaixonou por ela.
 A paixão de Britaldo foi tão forte que adoeceu gravemente.
 Iria, por inspiração divina, soube da doença do rapaz e da razão que a provocara e, por caridade, foi visitá-lo, desenganando-o dos seus desejos de casar com ela.
 Então Britaldo pediu a Iria que nunca casasse nem amasse a outro rapaz, o que Iria prometeu imediatamente.
 Com esta promessa tão prontamente feita, o filho do Govemador sentiu-se logo melhor.
 Mas... o bom Monge Remígio, a cujos cuidados Iria havia sido entregue, começou a sentir-se apaixonado pela linda Iria e a tentá-la.
 Iria não aceitou as tentações do Monge Remígio, o que levou este a tramar uma vingança contra a doce e inocente Iria.
 E a vingança consumou-se.
 O monge, que tinha muito de sábio, preparou uma beberagem com ervas, que conhecia, e que provocaram a inchação do ventre, dando a aparência de uma falta.
 Iria bebeu a tisana de boa fé. E o ventre de Iria começou a inchar, e quanto mais os dias corriam mais ele se avolumava e mais a sua fama de Santa desaparecia.
 Todas passaram a duvidar da pureza e da virtude de Iria.
 Britaldo, o jovem filho do Governador, ao saber o que constava e julgando que fria faltara à sua promessa, jurou vingar-se e ordenou a um dos seus familiares que a fosse matar.
 E o familiar matou Iria, no dia 20 de Outubro de 653, degolando-a, quando Iria, sempre pura e inocente, estava ajoelhada e de mãos postas, a rezar, à beira do rio Nabão, que passava junto ao Convento onde estava fria. E o corpo foi rio abaixo.
 No mesmo momento Célio, também tio de Iria, por revelação de Deus, sentiu a trama de Remígio e conheceu o sítio onde estava o corpo da donzela difamada. E tudo revelou ao povo que, cheio de dó e reconhecendo a inocência e a pureza de Iria, deu graças a Deus e foi buscar, em solene procissão, à baixa de Santarém chamada Ribeira, o corpo de Iria.
 Ali chegados deu-se o grande milagre de se abrirem as águas do Tejo, na margem, até onde estava o corpo imaculado da Santa, sobre um túmulo feito pelas mãos diáfanas dos Anjos.
 Era desejo de seus conterrâneos levar o corpo de Santa Iria, mas ninguém o pode fazer. Ninguém o movia. Apenas lhe levaram, para recordação, alguns cabelos e pedaços do pano da camisa que milagrosamente serviram para tratamento de cegos e aleijados no Convento de Santa Iria.
 Muitos milagres, segundo dizem, se devem a esta Santa, que séculos mais tarde, teve a visita de outra Santa, a Rainha Santa Isabel.
 E na Torre, na terra que a viu nascer, ainda hoje existe uma capela da invocação de Santa Iria que, segundo a tradição oral, foi construída no mesmo sítio onde esteve edificada a casa onde Ela nasceu.

Source
CABRAL, João Anais do Município de Leiria, Vol. III Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1993 , p.221-222
Place of collection
LEIRIA, LEIRIA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography