APL 1273 O milagre de Santo António
Decorriam os finais do século dezanove e, numa freguesia do Nordestinho, havia um padre muito trabalhador, de nome António Raposo, que queria construir uma igreja maior do que a pequena ermida que ali existia. O povo concordava com o padre e todos se dispunham a ajudar como podiam.
Havia um homem que tinha um carro de bois e estava encarregado de acartar pedra de uma pedreira distante.
Passado algum tempo, o homem tinha que ir a outra freguesia levar dois toiros que tinha vendido e, como não podia ir acartar pedra naquele dia, contou ao padre Raposo o que se passava. O padre ficou muito preocupado e disse-lhe que não podia ser porque não tinha ninguém para acarretar pedra. Mas o trabalhador nada podia fazer.
No outro dia de manhã, ainda lusco-fusco, o dito homem levantou-se e foi para a arribana, onde tinha os toiros, com a ideia de os amarrar e se pôr a caminho com eles. Quando lá chegou, ficou pasmado, porque os toiros já não tavam ali, mas em seu lugar havia uma pequena imagem, trajada de castanho, que lhe disse:
— Não te preocupes, os toiros já estão no seu destino e aqui tens o dinheiro que eles te renderam. Agora vai trabalhar!
O homem ficou sem saber o que havia de pensar e foi logo ter com o padre e contar-lhe o sucedido. Mas o padre, um homem de muita fé, não ficou nada admirado, nem duvidoso e disse-lhe que quem ele tinha visto era Santo António e que de certeza os toiros já estavam com o seu novo dono, como o santo tinha dito. Disse-lhe ainda que aquilo era um milagre e que ele devia ter fé em Santo António.
A notícia espalhou-se, todos os habitantes do lugar ficaram admirados e tornaram-se mais crentes no santo. A partir de então, passaram a chamar à sua freguesia Santo António do Nordestinho, nome que ainda hoje se mantém.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.96-97
- Place of collection
- Santo António De Nordestinho, NORDESTE, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)