APL 3351 Nossa Senhora Apparecida

Na comarca e concelho a 42 kilometros de Barcellos, junto á estrada que vae de Braga para Vianna do Minho, e no territorio da freguezia de S. Martinho de Balugães […] está um pequeno monte, e a capella de Nossa Senhora Apparecida. Eis a sua origem, segundo a lenda:
    Em 1702, havia na freguezia de Balugães, um mancebo quasi mentecapto, chamado João (depois João de Nossa Senhora Apparecida) filho de um pedreiro, por nome André Alves. O mancebo, posto que pouco atilado, era muito devoto de Nossa Senhora, e de boas inclinações. Em certo dia d’aquelle anno lhe appareceu a Santissima Virgem, ordenando-lhe que dissesse ao pae que queria que sobre o tal monte lhe erigisse uma capella.
    O moço revelou ao pae e aos visinhos, esta apparição e esta ordem; mas ninguem lhe deu credito, em razão da sua reconhecida simplicidade. Tanto porém instou que o pae foi, com outros, ao monte, e ahi viu a Senhora, sobre um grande penedo.
    Trataram logo de se cotisarem com esmolas e alli mesmo construiram uma pequena capella a Nossa Senhora, e uma dona de Braga deu para o seu altar, uma imagem, de 0,m50 d’altura.
    Em breve se espalhou por aquellas redondezas a fama dos muitos milagres attribuidos a esta Senhora, e as offerendas correram para aqui em grande quantidade.
Uma nobre senhora da villa de Barcellos, chamada D. Antonia, vendo que a imagem da padroeira era muito pequena, mandou, á sua custa, fazer outra ao Porto, de excellente esculptura, e com o dobro da altura. Foi esta imagem collocada no seu altar, no 1.º de novembro de 1704. D. Pedro II, offereceu á Virgem, uma rica corôa da prata.
    Do monte onde se edificou a primitiva capella se descobre um bonito e vasto horisonte, assim como a estrada que vae de Braga a Ponte do Lima (d’onde dista 12 kilometros) e para Vianna (d’onde dista 16 kilometros). Fica esta capella distante 3 kilometros do mosteiro de Carvoeiro.
    Foram tantos os milagres attribuidos á Senhora Apparecida, tão grande a concorrencia dos romeiros, e o numero das offerendas, que os visinhos projectaram edificar-lhe um templo mais vasto, por o antigo ser muito pequeno.
    Chegou á noticia do arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Telles, o grande concurso de devotos que hiam visitar esta capella, e querendo desenganar-se com os seus proprios olhos, alli foi, pelos annos de 1706. Nomeou para eremitão, ao tal João, a quem a Senhora tinha apparecido, e que já estava com perfeito juizo.
    Mandou edificar á Senhora, um vasto e magestoso templo, que é o actual, concorrendo os povos com o que podiam, e com muitas carradas de pedra. Concluiu-se, e foi n’elle collocada a Senhora, com uma grande festa em 1709.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VI, pp. 168-169
Place of collection
Balugães, BARCELOS, BRAGA
Narrative
When
18 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography