APL 1291 Lenda de Nossa Senhora da Paz

Corriam os primeiros anos do século dezasseis e Maria Ana da Câmara, descendente do donatário da ilha de S. Miguel, era uma jovem monja clarissa do Convento de Santo André em Vila Franca. Aí ouvia as velhas freiras narrar histórias terríveis de guerra e cataclismos acontecidos ali na Vila. A jovem religiosa entristecia-se com essas desgraças e pedia a Deus a paz entre os homens.
 Uma vez, quando estava a rezar, viu uma pomba branca pousar-lhe no ombro e segredar-lhe que a Mãe de Deus daria a paz à Vila se, sob a sua invocação, fosse levantada uma ermida no monte que se erguia em frente à cela.
 Passado algum tempo, uns rapazinhos andavam com o seu gado pelos montes quando, inesperadamente, encontraram numa lapinha, uma bela imagem de Nossa Senhora. Ficaram muito admirados, pegaram na Santa e levaram-na ao padre, que a colocou num dos altares da igreja de S. Miguel, em Vila Franca. No outro dia, de madrugada, a imagem já não estava no altar, mas apareceu outra vez no nicho em que tinha sido encontrada pelos pastores. Aquelas escapadelas de Nossa Senhora repetiram-se: traziam a imagem para a igreja e, sem se saber como, ela aparecia de novo na gruta de pedra.
 O povo, percebendo que Nossa Senhora desejava ficar na paz dos montes, decidiu construir-lhe uma ermida. Punha-se o problema da falta de água naquele sítio de acesso tão difícil. Não desanimaram e mantiveram a decisão.
 Um dia, numa das vertentes do monte, numa pequena chã, rebentou milagrosamente uma nascente de água fresca, o que veio tornar a construção mais fácil.
 Começaram por fim a construir os alicerces da ermida, no lugar que acharam mais indicado. Contudo, durante a noite, enquanto todos descansavam, as pedras foram removidas por mão misteriosa e levadas para junto da gruta onde aparecera a imagem de Nossa Senhora, indicando que era ali o sítio em que a Virgem queria a sua casa.
 O povo pasmou com este acontecimento. Construiu a capela no sítio desejado pela Senhora e em mil quinhentos e vinte estava pronta, alegrando o cimo do monte.
 Dois anos mais tarde deu-se o grande terramoto que destruiu quase toda a Vila Franca. A igreja da Matriz foi arrasada alguns montes desapareceram, mas o monte onde se erguia a ermida de Nossa Senhora da Paz foi poupado e a ermidinha branca ficou intacta. Ainda hoje lá está, embelezando a paisagem no cimo do monte sobranceiro a Vila Franca e a devoção à Senhora da Paz continua bem viva.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.115-116
Place of collection
Vila Franca Do Campo (São Miguel), VILA FRANCA DO CAMPO, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)
Narrative
When
16 Century, 10s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography