APL 2578 História da Alcaria Alta do Campo

Há duas Alcaria Altas. Uma é Alcaria Alta da Serra, ali ao pé de Cachopo, a outra é Alçaria Alta do Campo, chamam-lhes os selvagens. Sabe porquê? Porque havia um menino pequenino que andava guardando os porcos na ribeira, ao pé da Alçaria Queimada, que é um monte que também se chama Alçaria, Queimada. E levou uma porção de tempo, levava assim um pedacinho de pão num taleiguinho, e levou uma porção de tempo a dizer à mãe:
- Mãe, eu estive brincando com um menino lá na ribeira. Um menino muito bonito, um menino assim, um menino assado.
- Ah, és um aldrabão, és um aldrabão.
-Hei-de cortar-lhe um dedo e trazer-lhe um dedo, que é para a mãe saber se é verdade ou se é mentira., que eu brinco com o menino,
E essa noite veio e trouxe o dedinho dentro da bolsinha, (risos). Aquilo foi ouvido por muita gente, e então, o menino pertencia a Alcaria Queimada, o sítio onde brincava com ele pertencia a Alcaria Queimada.
E então todos queriam o menino e começaram: - Mas a gente não tem onde pôr nenhum menino! Mas uma diz assim: - Em Santa Justa está uma igrejinha que é a igreja de Santa Justa. Levavam o menino para a igreja à tarde e quando vinham no outro dia de manhã, estava lá no mesmo sítio onde o mocinho brincava.
Tanta vez fizeram aquilo até que resolveram fazer uma igreja mesmo lá em Alcaria Queimada. E então está lá uma igreja que lhe chamam o S. Bento.

Puseram-lhe o nome do santinho que era o S. Bento. E então é de milagres. Faziam milagres. Havia lá sempre uma grande feira no dia 10 de Agosto, era Feira de S. Bento. Toda a gente ia a S. Bento. E então S. Bento tinha lá uma igreja, e a igreja tinha um buraco redondo, fizeram lá um buraco redondo, que era para as pessoas meterem a cabeça, para não terem dor de cabeça durante o ano. E havia muita gente que ia lá e metiam a cabeça, e umas vezes diziam que lhe doía a cabeça e outras vezes que diziam que não [e rezavam alguma coisa quando metiam a cabeça?] Isso não sei, se elas rezavam se não.
Faziam lá uma grande festa. E a festa era, por exemplo a senhora doía-lhe uma perna, fazia uma perna de massa doce, punha lá no bazar e cada um comprava (…) e cada um fazia a sua coisa, às vezes eram coisas engraçadas que apareciam lá, umas vezes coisas dos homens, outras das mulheres. Isto é verdade, lá o santinho estar na igreja ou não estar, isso não sei, agora que as pernas se faziam, isso é verdade.
E ainda há outra coisa, quem tinha percevejos, nesse tempo havia muito percevejo, a promessa do percevejo desaparecer era três ovos e um pincel de caiar, não sei para quê. Ofereciam à igreja.

Então resolveram fazer lá essa igrejinha, ele não queria ficar em Santa Justa, diziam que ele não queria a namorada. [a Santa Justa era a namorada do São Bento?] Diziam as senhoras, a igreja era duma santinha e como ele era santo…

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2005
Place of collection
Cachopo, TAVIRA, FARO
Collector
Ermelinda Almeida (F)
Informant
Maria Dionísio (F), 82 y.o., born at Cachopo (TAVIRA),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography