APL 921 Nossa senhora de jerusalém
Em tempos longínquos, havia uma linda menina de família modesta que tinha por oficio guardar ovelhas no monte.
Costumava levar sempre consigo uma cesta com a merenda e uma estampa muito bonita com a imagem de Nossa Senhora.
Quando chegava ao monte, fazia um altar com pedrinhas, colocava-lhe em cima a estampa e punha-se a colher flores silvestres, para a enfeitar.
Depois, quedava-se a pensar como era que nasciam ali tantas e tão variadas flores, sem serem semeadas.
Um dia, Nossa Senhora apareceu-lhe e explicou-lhe como nasciam as flores silvestres:
- É Deus que as semeia no Outono e as rega no Inverno, para nascerem na Primavera e florirem no Verão.
A linda menina ficou muito feliz por ver Nossa Senhora e por Ela lhe explicar como nasciam as flores no monte, sem serem semeadas pelas pessoas.
Quando regressou a casa, fechou as ovelhas, e foi logo contar à mãe, cheia de contentamento, que lhe tinha aparecido Nossa Senhora, para lhe ensinar como nasciam as flores no monte.
Mas a mãe não deu qualquer crédito às suas palavras; e, para lhe tirar as cismas, no dia seguinte, mandou-a apascentar as ovelhas para outro local.
A menina ficou triste, porque gostava de ver aquela Senhora tão linda, mas obedeceu, resignada. Foi para o sítio indicado pela mãe, mas continuou a armar o seu altar e a pôr nele a estampa de Nossa Senhora, com as flores silvestres, que lá havia também.
Alguns dias depois, quando ela andava a colher flores para enfeitar a sua linda estampa, tornou-lhe a aparecer Nossa Senhora, desta vez, para lhe dizer que fosse pedir à mãe e ao povo que Lhe construíssem ali uma capela, com a sua imagem.
A pastorinha, ao chegar a casa, contou à mãe que Nossa Senhora lhe voltara a aparecer e lhe pedira que Lhe construíssem uma capela no sítio, onde Ela costumava armar o seu altar.
Então a mãe, perante a insistência da filha, começou a pensar se não seria mesmo verdade o que ela dizia.
Desabafou com as vizinhas, para ver qual a atitude a tomar naquelas circunstâncias. Estas aconselharam-na a ir com a filha ao local, a ver o que se passava e prontificaram-se a acompanhá-la, levando já velas para acender, se Nossa Senhora aparecesse.
Logo que chegaram ao monte, a menina começou a construir o altar, como costumava fazer quando estava só, e a apanhar as flores silvestres, para enfeitar a estampa.
As mulheres observavam-na, em religioso silêncio, a ver o que saía dali. Não tardou que Nossa Senhora aparecesse à pastorinha e lhe dirigisse a palavra.
As pessoas notaram que ela fixava os olhos no céu e falava com alguém que elas não viam nem ouviam.
Seria Nossa Senhora? Pelo sim, pelo não, acenderam as velas e esperaram.
Passados uns momentos, levantou-se uma forte ventania que apagou todas as velas, excepto as da pastora.
Tomando aquilo como um milagre, começaram a acreditar na autenticidade das aparições e resolveram construir a capela que a menina pedira, em nome de Nossa Senhora, mas na povoação, para ser mais fácil lá irem rezar.
Depois de arranjar dinheiro e materiais para a construção, puseram mãos à obra, mas o trabalho não andava para a frente: o que faziam de dia desaparecia de noite, sem que ninguém conseguisse descobrir a razão.
Depois de várias tentativas infrutíferas, concluíram que Nossa Senhora não queria a capela na povoação e resolveram construí-la no local indicado pela pastora.
Então, tudo começou a correr às mil maravilhas; e, em pouco tempo, a ermida ficou terminada: branquinha, a contrastar com o verde da paisagem circundante.
Depois, mandaram fazer uma imagem igual à da estampa da pastorinha e colocaram-na sobre o altar, de pedra, como o da pastora.
Só faltava dar-Lhe o nome.
Consultada a vidente, deram-Lhe o nome de Nossa Senhora de Jerusalém, porque Ela tinha dito que vinha de lá, quando apareceu, para lhe explicar como nasciam as flores do monte, sem serem semeadas.
- Source
- FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis Vila Real, Edição do Autor, 1999 , p.84-86
- Place of collection
- Sanfins Do Douro, ALIJÓ, VILA REAL
- Informant
- Aida de Jesus (F), 72 y.o., Sanfins Do Douro (ALIJÓ),