APL 3757 O bruxo do castelo de Algoso

Há muitos e muitos anos, contavam os nossos avós, o castelo de Algoso era dos mouros e vivia lá um bruxo muito rico, que tinha andado a juntar muito ouro e muitas jóias.
    Um dia, os cristãos resolveram tomar o castelo e expulsar os mouros. Então o bruxo, como era adivinho, soube deste ataque, e, horas antes, saiu do castelo com o tesouro para, sorrateiramente, ir enterrá-lo ao pé de uma fonte ali perto.
    Quando estava nestes trabalhos, eis que lhe aparece uma rapariga, que ia buscar água à fonte com uma cantarinha de barro. Então o bruxo, com receio de que a moça denunciasse o seu segredo, tratou logo de a encantar com as suas artes mágicas. E disse:

— Em cobra ficarás encantada,
p’ra que andes sempre de boca calada!
 
    Assim aconteceu. A moça lá ficou junto àquela fonte transformada em cobra. Depois os cristãos tomaram o castelo aos mouros, matando uns e expulsando outros, e do bruxo nunca mais se soube nada.
    Diz o povo que, em noites de S. João, há quem tenha visto junto ao castelo uma jovem muito bela a dançar ao luar, achando-se, sobre as pedras da fonte, a pele de cobra que despe por momentos. E quando alguém se aproxima para tentar ir à fala com ela, logo a jovem desaparece e volta para a água da fonte, arrastando consigo a pele que a vai transformar de novo numa horrível cobra.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.371
Year
2001
Place of collection
Algoso, VIMIOSO, BRAGANÇA
Informant
António Augusto Fernandes (M), 72 y.o.,
Narrative
When
12 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography