APL 784 Uma grande barulhada

Ali à volta da igreja aconteciam coisas estranhas, sim senhor. Nem toda a gente as via, mas ouvir, ouvia-se.
 Numa ocasião, íamos eu e a Albertina do Constantino, ainda com de noite, apanhar mato para fora do povo. Nesse tempo não havia relógios como hoje há, e nós, às vezes, quando era lua-cheia, levantávamo-nos “à doida”, julgando que era de dia. Só dávamos conta que ainda era de noite depois de passarmos muito tempo a trabalhar e o sol sem aparecer.
 Foi numa dessas noites que eu e a Albertina íamos a passar ao pé da igreja e ouvimos lá uma grande barulhada. O que era? O que não era? Ver, não víamos nada, só ouvíamos aquelas vozes a cantar. Que estava ali gente, estava. E que era alguma coisa do outro mundo, era.
 Só que nós não fomos mancas a fugir para casa. Metemo-nos outra vez na cama e pronto. Já nem fomos ao mato.

Source
PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.196
Year
2007
Place of collection
Tabuaço, TABUAÇO, VISEU
Collector
Alexandre Parafita (M)
Informant
Maria da Purificação Fernandes Ferreira (F), 76 y.o.,
Narrative
When
21 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography