APL 1958 Uma Criada e as Almas do Purgatório
Uma vez uma rapariga estava a servir, mas teve de sair porque a senhora a despediu.
A rapariga tinha o costume de rezar muito pelas Almas do Purgatório e de mandar dizer uma missa, todos os meses, pela alma que estivesse mais próxima de se salvar, isto é, de ir para o Céu.
Quando saiu daquela casa, passou diante de uma igreja e lembrou-se que nesse mês ainda não tinha mandado celebrar a missa costumada. Estava desempregada e tinha apenas o dinheiro equivalente ao estipêndio da missa. Apesar disso, entrou e falou com o sr. Prior para lhe dizer uma missa pela alma que estivesse mais perto de entrar no Céu.
O Sr. Prior aceitou-lhe a intenção.
A rapariga continuou o seu caminho e, nisto, encontrou um rapazinho que lhe perguntou:
- Para onde vais?
Ela respondeu:
- Saí hoje duma casa e preciso encontrar patroa que me aceite.
O rapaz deu-lhe logo a direcção de uma senhora que precisava de criada.
A rapariga foi à morada indicada e cruzou-se com a empregada despedida que lhe perguntou onde ia.
Ela respondeu que ia ver se a senhora daquela casa a queria, porque sabia que necessitava de criada.
A outra disse-lhe que era precisamente a casa donde ela vinha e nada mais acrescentou.
Quando a rapariga chegou ao pé da senhora, perguntou-lhe se precisava de criada, acrescentando que se a quisesse assoldadar, ela podia lá ficar.
A senhora, cheia de curiosidade, estranhando aquela tão rápida vinda da rapariga, perguntou-lhe então quem lhe dissera que ela necessitava de criada.
- Foi um rapazinho e, olhando para um retrato que lá estava a ver em casa, acrescentou: Está até ali o retrato dele.
A senhora observou-lhe:
- Mas tem a certeza de que foi este menino?
- Tenho sim, minha senhora.
- É impossível porque esse rapaz é meu filho e há dois anos que me morreu.
Conversaram em seguida as duas, procurando a senhora indagar, se o que a rapariga dizia era mesmo certo.
A criada então explicou:
- Olhe, minha senhora, eu tenho a devoção de mandar celebrar todos os meses uma missa pela alma de quem estiver mais próximo de entrar no Céu. Pode ter sido a alma do seu filho que estivesse nessas condições e que vá para o Céu com o auxílio das missas que eu tenho mandado dizer, lembrando-se, por isso agora de mim.
À senhora deu-lhe logo um «chelique» e a rapariga ficou toda aflita, por não haver ali ninguém e poderem julgar que fora ela que fizesse algum mal à senhora.
Quando a Senhora «veio a ela» isto é, recuperou os sentidos, disse à rapariga:
- Pois agora vossemecê entra para a minha casa como se fosse minha filha, pelo bem que faz às Almas e com certeza também ao meu filho, uma vez que lhe apareceu.
Vai tomar conta de tudo, e eu deixo-lhe todos os meus bens.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Place of collection
- Ferro, COVILHÃ, CASTELO BRANCO
- Collector
- Maria da Ascensão Rodrigues (F)