APL 1087 O Medo do Alto da Piloteira
Conta-se ter-se esta história passado com o meu avô e o seu irmão.
Era inverno, a noite vinha cedo e a hora já ia espigada. Vinham lado a lado pelo caminho estreito.
Às tantas, logo após o Alto da Piloteira, um começou a ouvir um ruído de passos atrás e disse ao irmão:
- Ó Luís, mas eu ouço gente a sapatear, podemos esperar, vamos todos juntos.
- Cala-te, vamos embora.
Pouco tempo mais, dizia a mesma coisa e o irmão dava-lhe a mesma resposta.
O meu avô estranhava o que o seu irmão ouvia porque ele mesmo, ouvia nada. Via um grande cão preto que quase lhe roçava as pernas, as dele e as do irmão Zé.
Estranhou também que o irmão não lhe fizesse qualquer referência ao animal.
Seguiram caminho, mas ao chegar à Barroca da Sarnadinha o cão desaparecera.
No outro dia calharam a falar do assunto e o Luís perguntou ao irmão:
- Olha lá, tu ontem à noite não viste um cão negro que nos acompanhou desde o Alto da Piloteira até à Barroca da Sarnadinha?
- Eu não. Respondeu o irmão espantado.
- Atão, tantas vezes que ele te roçou as pernas.
- Não vi nada, tu não ouvias passos atrás de nós?
- Não, não ouvi nada.
- Source
- HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros Vila Velha de Rodao, Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.43-44
- Year
- 1984
- Place of collection
- PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
- Collector
- Francisco Henriques (M)
- Informant
- José Henriques (M), PROENÇA-A-NOVA (CASTELO BRANCO),