APL 958 O descanso eterno

Conta quem tem muita fé e acredita na vida após a morte que, depois de o coração parar e o corpo for encaixilhado e enterrado sete palmos abaixo da terra, muitas vezes o espírito volta à vida. Isto deve-se ao facto de nem sempre as almas conseguirem ter o descanso eterno, pois, por algum motivo, ficaram em dívida na vida terrena.
Conta a D. Etelvina que lá na sua terra havia muitos casos de almas penadas. Recorda, ainda muito nova, de a sua tia lhe contar que uma vizinha apanhara um susto de morte com uma visão.
Um dia, andando a trabalhar na leira, a vizinha deixara-se ficar até ao lusco-fusco. Quando se preparava para regressar a casa, viu uma senhora, já de uma certa idade, sentada numa das estacas que delimitava a leira. Curiosa, a vizinha aproximou-se da senhora e perguntou-lhe se ela estava bem, pois a cor que apresentava não era muito normal. Estava pálida como a cal.
A senhora disse para a vizinha que não estava nada bem, pois não encontrava o descanso que tanto ansiava. Explicou então que precisava que a estaca onde se encontrava sentada fosse mudada cinco metros para o lado, uma vez que a leira delimitada pelas estacas tinha tamanho a menos, pois um dia, com a avareza, ela mudara a estaca de sítio.
A vizinha aceitou então fazer o favor à pobre senhora e mudou a estaca de sítio. Quando se voltou para saber se estava bem colocada, descobriu que a pobre mulher tinha desaparecido misteriosamente.

Source
AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.AP21
Year
2002
Place of collection
CAMINHA, VIANA DO CASTELO
Collector
Denisa Barbosa (F)
Informant
Etelvina Braga de Passos (F), 91 y.o., CAMINHA (VIANA DO CASTELO),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography