APL 554 O cruzeiro ensombrado

Num dia de Verão, um casal resolveu ir buscar colmo para fazer vassouras e dirigiram-se para uma ribeira no Alentejo. Quando lá chegaram havia muito colmo e começaram a cortar mas fez-se de noite e tiveram de lá dormir. Nessa noite viram um vulto do tronco para cima, ouviam os passos mas não viam as pernas. Ouviam-se as correntes a azurrar. Ultrapassou a ponte para o outro lado e começou a tocar o sino. O homem afoito foi atrás desse vulto. Chegou à ponte ia para ultrapassar para o outro lado mas a mulher disse para ele voltar pra trás. Dormiram e no outro dia puseram-se a cortar até se fazer de noite. Nessa noite viram as pernas do tal vulto mas não viram o tronco. Passou outra vez a ponte e começou a tocar o sino e o homem pegou na bengala e ia atrás dele mas a mulher não o deixou ir. Quando se fez de manhã estenderam o colmo. À tardinha foram à aldeia dormiram lá essa noite. De manhã perguntaram a um velhinho o que era aquilo no rio. O velho disse: “Foi um rapaz que morreu lá atado num cruzeiro com correntes e por isso aparece todas as noites.” Foram outra vez ao rio e levaram o velho, chegaram lá e encontraram o colmo todo desfeito e julgaram que tivessem sido os javalis mas o velho disse que talvez fosse o rapaz e nesse mesmo dia voltaram para casa.

Source
MOURA, José Carlos Duarte Contos, Mitos e Lendas da Beira Coimbra, A Mar Arte, 1996 , p.15
Place of collection
CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography