APL 2191 A promessa da alma penada
Conta-se há muitos anos na aldeia de Guilhado, do concelho de Vila Pouca de Aguiar, que um certo homem, quando estava a dormir, foi acordado por uma voz desconhecida de alguém que lhe queria falar. O homem levantou-se e não viu ninguém, mas continuou a ouvir a mesma voz. Até que lhe perguntou:
— Quer-me alguma coisa?
Então a voz respondeu-lhe:
— Quando andei neste mundo fiz uma promessa, mas a morte veio mais depressa e levou-me sem me dar tempo de a cumprir. Agora ando a penar pelo mundo, pois não posso entrar no Céu enquanto não arranjar quem cumpra a promessa que fiz.
— E que posso eu fazer? — perguntou o homem.
— Como sei que és um homem bom, vim falar-te na esperança de que aceites tu cumpri-la — respondeu a alma.
— Então diga lá o que é, e eu, se puder, cumpro-a.
— Terás que jejuar durante um ano inteiro a pão e água, mas deves pôr todos os dias uma toalha na mesa com o prato e o garfo sem os usares. Daqui a um ano volto a aparecer-te para saber se a promessa foi cumprida ou não.
O homem aceitou. Passado um ano, recebeu, certa noite, a visita de uma pomba preta, mas com uma pena de cor branca. O homem ficou muito aflito com tal visita, e logo a mesma voz se fez ouvir para lhe dizer:
— Não cumpriste a promessa como devia ser. A pena branca que aqui vês representa o único dia em que puseste a toalha na mesa.
Dito isto, a pomba desapareceu. Diz o povo que aquela alma continua a penar pelo mundo.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisbon, Plátano Editora, 2001 , p.144
- Year
- 1999
- Place of collection
- VILA POUCA DE AGUIAR, VILA REAL
- Informant
- Maria Teresa Saraiva (F), 52 y.o.,