APL 3219 A lenda do Pico Cidrão

Nas proximidades do Pico Ruivo existe o Pico Cidrão. Zona de fauna descendente dos primitivos javalis africanos, que os Donatários mandaram trazer para ali, com predominância para as cabras e o chamado «porco bravo, que por ali escadeiam sob a vigilância dos pastores. «Diz a lenda que, uma vez, por aqueles despenhadeiros andava um Pastor com o seu cão, na faina de colher as cabras e os porcos que se refugiavam nas zonas de mais perigoso acesso. Num salto infeliz o pobre cão resvalou e foi rolando e desfazendo-se pelas escarpas da montanha. Então o homem, num acesso de raiva, gritou que mais valia ter dado a alma ao diabo que perder aquele cão... Passou o tempo. Morreu o pastor o desde então, diz o Povo, nunca mais deixou de se ouvir o uivo do cão e a praga do pastor misturados num som rouquenho que atemoriza as gentes.
    Na Casa de Abrigo, no alto do Pico Ruivo, quando os visitantes se aconchegam ao calor da lareira e cá fora o vento e a chuva formam um conserto infernal, é frequente ouvir-se o som rouquenho que afirmam ser o uivar do cão que se despenhou e a praga do pastor que antes quisera dar a alma ao Demo... — É o Bicho Cidrão! É o Bicho Cidrão! E os que ouvem aquele som estranho, aterrorizados, benzem-se, rezando o credo em cruz, para afastar esse espírito maligno do Bicho Cidrão, que vagueia pelo mundo para perdição das almas... » — Visconde do Porto da Cruz, in «Folclore Madeirense» — pág. 34.

Source
PIO, Manuel Ferreira O Concelho de Santana - Esboço Histórico Funchal, sem editora, 1974 , p.166
Place of collection
SANTANA, ILHA DA MADEIRA (MADEIRA)
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography