APL 1481 Alcobaça (2)
Quando D. Affonso I tomou o castello, em 1147, era seu alcaide Al-Mansour, joven e formoso mouro; mas ferocissimo e lascivo, arrastava para o seu castello e fazia suas amantes, quantas raparigas bonitas podia pilhar. Combateu corajosissimamente contra os christãos, até á morte, e os portuguezes só se apossaram do castello, passando sobre o seu cadaver mutilado.
O povo d’aquelles sitios conserva ainda a respeito d’este mouro a lenda seguinte:
Todas as raparigas bonitas que ainda hoje passarem, depois do sol posto, sem companhia, por junto do castello, ouvem ao longe uma musica harmoniosíssima, que se vem aproximando pouco e pouco. Então vêem sentado n’uma pedra ou em um tronco de arvore, um formosissimo mouro, ricamente vestido, que lhes canta certas cantigas, com uma voz encantadora.
(Ha muito quem cante ás raparigas bonitas, d’estas cantigas, sem ser no vetusto castello de Alcobaça!....)
Ellas ficam de tal modo perdidinhas, que o mouro, assim que as vê fascinadas, se levanta e vae para o seu castello, seguido põe ellas, que lá ficam eternamente, em um palacio subterraneo, esplendidamente mobilado e decorado.
Não acontece porém isto, se a pequena leva alguma reliquia de santo, ou se sabe alguma oração bonita a Nossa Senhora, que então, de nada valem os encantos do mouro contra ella.
Já se sabe que o tal mouro é, nem mais nem menos, Al-Mansour, que está encantado, per omnia in sæculo sæculorum: amen.
- Source
- PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.tomo I, p.75
- Place of collection
- Alcobaça, ALCOBAÇA, LEIRIA