APL 3574 O guerreiro e a princesa moura

Conta-se que, há muitos e muitos anos, quando nas terras do norte se travou uma grande batalha entre cristãos e mouros, um jovem guerreiro cristão raptou uma linda princesa moura e fugiu com ela para o castelo de Monforte [no concelho de Chaves]. E o pai da jovem, ao ver em que mãos ela ia, lançou-lhes uma maldição tal, que, quando chegaram ao castelo, o que o guerreiro levava consigo já não era a princesa moura mas sim uma enorme serpente.
    Ora o guerreiro, sem saber o que fazer com ela, resolveu fechá-la numa torre do castelo. Passou então a ouvir-se ali durante a noite uma voz de menina a gemer e a chorar. E o guerreiro, que se tinha apaixonado por ela, ao ouvir aquele choro, subia sempre à torre na esperança de a encontrar na figura da princesa que trouxera. Mas enganava-se. O que lá encontrava era a serpente e nada mais.
    O jovem cristão não sabia como tratá-la. Passou por isso a viver numa grande tristeza. Até que, certa noite, em que o choro da serpente o atormentou demais, foi lá visitá-la e, condoído da sua dor, disse-lhe estas palavras enquanto a afagava e a beijava:

“ - Trouxe-te linda princesa
Para contigo casar
Agora se olho p’ra ti
Só me apetece chorar!

Quem me dera ter poder
P’ra te quebrar o encanto,
E poder olhar p’ra ti
P’ra te enxugar o teu pranto!”

    E eis que, acabadas estas palavras, a serpente aparece transformada na bonita menina que era antes, O guerreiro quebrara-lhe o encanto. E depois casaram.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.236-237
Year
1999
Place of collection
Santo António De Monforte, CHAVES, VILA REAL
Informant
Maria da Graça Oliveira Gomes (F), 54 y.o.,
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography