APL 454 O penedo que dou linho

Um’òcasiêo, havia ma moura ali pró Rovim. Ia p’ra lá ma catchopinha co gado e todos os dias l’apracia aquela mulher muita linda. Ele dixe à mãe:
 — Elhe lá mãe, aparece-me todos os dias ma mulher tã linda, tã linda qu’ê sê lá, a tchamar-me pró pé dela! Mas só le vi do mei pra cima, e os pés nunca los vi.
 — No vás lá a ter c’o ela, filha, êlha que te arrecolhe lá pra drento, ficas lá incantada, e nunca mai de lá sais.
 Um bel dia ela foi mai o irmenzinho a guardar o vivo. A moura apareceu a tchamá-la e a dezer:
 — Anda cá mnha filha, êlha aqui isto, tama lá!
 Ela squecê-se do que dixe a mãe e foi. A moura agarrou nela e dixe:
 — Anda cá pr’aqui qu’és minha. Cando este penedo der linho é que daqui sais.
 À noite o catchopinho tchegou a casa e a irmëzinha não. Começou a mãe a clamar:
 — Qu’é da nossa menina, qu’é da nossa menina?
 — Êlhe mãe, stávamos à roda do penedo e ma mulher muita linda tchamou-a e dixe que só cando aquele penedo der linho é que a nossa Fulena de lá sai.
 A mãe desgraciava-se, coitada:
 — Ora vês, que já fecamos sim a nossa menina!
 Ajuntou-se atão a familha toda, acartou terra p’ra riva do penedo, samearam lá linho, e cando o foram-na colher, apareceu lá a menina.

Source
BUESCU, Maria Leonor Carvalhão Monsanto, Etnografia e Linguagem Lisbon, Editorial Presença, 1984 [1958] , p.138
Place of collection
Monsanto, IDANHA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Informant
Ana Manivensa (F), Monsanto (IDANHA-A-NOVA),
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography