APL 150 O pastor e a cobra
Era uma vez um pastor qu’andava a guardar um rabanho d’ovelhas e de cabras. Quando era Verão, punha as ovelhas e as cabras arredear à sombra das árvores. E quando era a hora do jantar, ía ordenhar as cabras pra beber o lête com sopas de pão migado dentro da marmita.
Deu em aparecer por lá uma cobra pequena, e ele dava-lhi o resto do lête. Todos os dias a cobra começô a ir pró pé dele e o pastor dava-lhi sempre lête. Entretanto, a cobra fez-se muito grande e, por onde passava, já fazia vereda.
O pastor começô a temer-se à cobra porque ela já era muito grande. Mas ela bebia sempre o lête àquela hora e nunca fazia mal ao pastor. Ele dizia às pessoas que andava a criar uma cobra a lête lá no campo, mas que já andava com medo dela.
Um dia o pastor dexô de beber lête e de dar à cobra. Esta, zangada, enraiveceu. Bateu-lhi com o rabo e enrolô-se ao pastor e matô-o, cortô-lhi o pescoço. Mas, depois d’o matar, ficô junto dele.
Quando foi à noite, o gado andava estramalhado e o pastor nã aparecia para o fechar. As pessoas forã à procura dele e encontrarã-no morto e com a cobra ao pé. Forã buscar uma arma e matarõ a cobra.
Quem lhi havia de dizer qu’andava a criar uma cobra til pequena pra se fazer numa víbora e o matar.
- Source
- GRAÇA, Natália Maria Lopes Nunes da Formas do Sagrado e do Profano na Tradição Popular Lisbon, Colibri, 2000 , p.198
- Place of collection
- Margem, GAVIÃO, PORTALEGRE
- Informant
- Cassilda Lopes Bernardino (F), 58 y.o.,