APL 1006 A chiba
Na freguesia de Lagares, costumava haver os tridos às cinco da manhã, feitos por padres franciscanos. As pessoas, antes de irem para a igreja, juntavam-se no Abrunho e depois seguiam todas juntas.
Uma madrugada, um grupo de pessoas que seguia para o Abrunho deparou com uma chiba a barrar o caminho. Para conseguirem passar, ordenaram:
− Sai chiba, sai chiba!
Mas a chiba não saía dali, o que era coisa pouco comum, pois as cabras, quando avistam gente desconhecida, fogem.
As pessoas, um pouco assustadas, acabaram por dar a volta por outro sítio para chegarem ao Abrunho.
Entretanto, meteu-se ao caminho uma mulher mais atrasada. Encontrou a chiba e ordenou-lhe:
− Sai chiba!
Como ela não saía, a mulher começou a atirar-lhe pedras. A chiba não se moveu.
A mulher, muito assustada, voltou para trás e, dando uma grande volta, foi juntar-se aos outros que já se encontravam no Abrunho. Estes, quando a viram, perguntaram:
− Não viste a chiba no quelho?
A mulher disse-lhes que a tinha visto e que lhe tinha atirado pedras, mas ela não se mexera. Ao chegar à igreja, resolveram ir contar ao padre, que tentou sossegar toda a gente. No fim do trido, voltaram e já não viram a chiba. Os mais velhos, para não assustarem a novidade [= as crianças], disseram que a chiba era de um pastor que a tinha perdido.
A verdade é que, a partir daí, nunca mais ninguém passou de noite por aquele quelho, com medo de que a chiba lá estivesse à espera.
- Source
- AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.HD9
- Year
- 2000
- Place of collection
- Penafiel, PENAFIEL, PORTO
- Collector
- Dirce Soares (F)