APL 1812 [O Ribeiro dos Juncos]
Era eu miúdo, e então íamos ali para a porta dos vizinhos, de noite. E havia umas mulheres já de idade, que tinham aquele jeito de contar histórias, e punham-se a contar…E algumas eram verdadeiras como esta que eu vou a contar. E acontece que a gente, até para ir para casa, tínhamos medo, depois de ouvirmos aquelas coisas todas. A gente ia a tremer, ia a fugir para casa, que quase não entravamos de embirrarmos com a porta. Aquilo era um susto que a gente levava, das coisas que elas nos contavam.
Bom, mas onde me contaram esta que era…
No Ribeiro dos Juncos, que era o nome d’aquele sítio, que era um caminho muito escuro que não tinha contacto com casa e coisa nenhuma e aquilo era terrível de noite, aquelas noites escuras; e vinha um sujeito a andar, era um rapaz qualquer que tinha ido ver a namorada. E vinha a andar, a andar, quando ele vê num lugar daqueles, deserto, aquele borreguinho, a berrar, aquele borreguinho pequenino a berrar.
- Olá!? Mas um borreguinho aqui neste sítio. Eu cá não vou deixar isto abandonado.
Então pega no borrego, põe o borrego ás costas, passado aos ombros, segurando nas pernas de um lado e de outro. O borreguinho era levezinho quando o pôs aqui [aos ombros], mas o homem ao andar, ao andar, ao andar, começa a sentir aquele peso, aquele peso, aquele peso. O homem já não podia quase levantar as pernas, não andava nada. Diz ele assim:
- Eh meu Deus, mas então!? Um peso destes!? Tenho que largar o borrego.
Faz o borrego assim:
- Hiiimmmm! O teu pai tinha dentes igual a mim. (O narrador ri-se)
E o homem larga o borrego, começa a fugir e quase que não chega a casa. Ia morrendo com o susto que apanhou… do borrego.
O borrego falou!
Está vendo!? Agora não contam histórias destas, mas esta diz que foi verdade, sei lá… (o narrador ri-se)
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Year
- 1996
- Place of collection
- OLHÃO, FARO
- Collector
- Dulce Quintino (F)
- Informant
- Joaquim Rodrigues Zeferino (M), 80 y.o., OLHÃO (FARO),