APL 457 Os bois presos no cagorro
Ouvi contar esta história há muito tempo ao padrinho José Rosendo. Dizia ele que ali mais embaixo, na encruzilhada do Cagorro, costumavam juntar-se as bruxas nas noites de sexta feira e faziam muitas judiarias a quem passasse naquele sítio.
Uma noite ia ali a passar o padrinho José Rosendo com outros homens numa carreta puxada por uma junta de bois e de repente os animais prenderam-se. Por mais pancada que levassem não se mexiam nem p’ra trás nem p’ra diante. Ficaram ali especados até que um dos homens se lembrou que aquilo seria brincadeira das bruxas.
Então agarrou numa faca com a mão esquerda e pôs-se a cortar no meio das patas dianteiras dos bois, assim como se estivesse a cortar um baraço que lhes prendesse as patas. Fez esse geito de cortar três vezes, e daí os animais puzeram-se a andar.
Ouviram gritos de mulher a arrenegá-los e ficaram cheios de medo.
Eram as bruxas que naquela encruzilhada prendiam o gado com uma peia que faziam. E os animais só se punham a andar quando alguém cortasse as peias das bruxas três vezes, segurando na faca com a mão esquerda.
Dizem que isso acontecia com muito gado que passava na encruzilhada do Cagorro.
- Source
- TENGARRINHA, Margarida Da Memória do Povo Lisbon, Colibri, 1999 , p.26
- Place of collection
- Mexilhoeira Grande, PORTIMÃO, FARO
- Informant
- Gertrudes dos Santos (F), born at Mexilhoeira Grande (PORTIMÃO),