APL 2816 “O ladrão do nosso vinho”
Lá no Barrabás, no Amieiro, elas iam todas as noites encher-se de vinho. Tinham lá uns tonéis e iam-se encher de vinho. Então, o homem duma também foi. Mas coitado: foi nu. Caçou com certeza o feitiço, ou o que era – andava por aí nu. O que sei é que ele foi nu! Então elas encheram-se todas de vinho e deixaram a esquiça aberta, do tonel. Deixaram a esquiça aberta… O homem, coitado, viu o vinho a verter-se, pôs-se lá a tapar com um dedo. A tapar com um dedo…
De manhã os donos foram lá:
- Ah! Graças a Deus, sempre demos com o ladrão do nosso vinho! Ele faltava, para algum lado tinha de ir!
Diz:
- Ó, meu senhor, olhe que me aconteceu isto… Olhe que eu não sou ladrão nenhum... Foram umas feiticeiras que vieram cá… E também vinha a minha mulher, sabe? E deixaram a esquiça aberta. E eu, veja no estado em que estou, pus cá o dedo por causa de não deixar verter o vinhinho.
E lá acabou, coitado. Lá os homens lá puseram a esquiça, mas ele é que ainda esteve lá nu, à espera que ainda pusessem a esquiça lá no vinho!
Mas isto diz que foi verdade, dizem os antigos que foi verdade, que eu tinha a minha madrinha, era lá do amieiro (era de cá, mas depois casou e ficou lá) e ela contava muita vez isso que era verdade.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Place of collection
- Amieiro, ALIJÓ, VILA REAL
- Collector
- António Fontinha (M)
- Informant
- Natália de Jesus Veiga (F), 71 y.o.,