APL 2467 Bruxa da aldeia

Informante: Havia lá um homem, que era meu compadre, e tinha um bebe e eu fui madrinha desse bebe. Fui madrinha desse bebé, e o bebé era da cintura para cima era gordinho, da cintura para baixo era assim, o cuzinho dele era assim como a minha mãe e uma perna aqui e outra aqui. Fazia impressão. E daqui para cima era forte. E uma vez mandaram-me chamar, e lá fui eu à pressa, baptizar o moço, dentro de uma bacia com um ramo de oliveira, e foram buscar água à igreja, água benta, e com o ramo de oliveira eu e o rapaz baptizamos o moço, sacudimos-lhe a agua benta, o moço estava a acabar de morrer. E então houve lá uma senhora que disse: vocês, fazem uma coisa, eu benzo a criança, fica aqui a criança, e vocês não dão nada a esta pessoa, nem emprestam, nem dão, nada, nada, durante não sei quantos dias era. Porque puseram a roupa da criança num cedeiro, num cedeiro que era uma coisa assim deste tamanho, assim quadrada, com tudo de pregos aqui espetados por baixo. É uma coisa em madeira como isto, pregos aqui espetados por aqui e os pregos ficam assim espetados nesta altura. Pregos grandes. Tudo cheio de pregos, tudo, tudo. E então puseram a roupa da criança, o que vestia, a fralda, a camisa e aquela coisa toda. Tudo espetado aqui nos pregos.

Colector: A criança já estava morta?

Informante: Não morreu. Tudo espetado naqueles pregos e depois põem uma pedra em cima, e quando acabam de por a pedra em cima hà qualquer pessoa que adoece. E lá na aldeia deu-se isso. O homem benzeu, puseram a pedra em cima e adoeceu lá uma mulher que ninguém dizia que ela era bruxa. Uma mulher daquelas, toda a gente ficou parva. E então, o homem quando pôs a roupa no cedeiro, disse assim: vocês não dão nada a ninguém, seja ele quem for, que venha pedir alguma coisa vocês não dão nada, nem emprestam e nem dão nada. Ora, havia lá uma mulher que era irmã, não, era cunhada, cunhada do pai do miúdo. E foi pedir palha de centeio, que era para por lá na cabana dos porcos e não sei quê. E o pai do miúdo era albardeiro, fazia albardas e “molhins” para as bestas. E então, a cunhada foi-lhe dar os molhos de centeio. Olha, assim que lhe deu os molhos de centeio, a velha pôs-se pior. E dizia assim: ai vocês não vão para ali para a rua do vale, que naquela rua está ali uma mulher que me faz mal, que me faz mal e que me faz mal. De maneira que ele perguntou-lhe: você deu alguma coisa ou emprestou ali à Manuel não sei quê. Ah pois emprestei-lhe, acho que cinco molhos de centeio. É assim, então nós vamos acabar com ela, quer que a mate? Quero. Então puseram mais dois pedregulhos gigantes em cima do outro que já lá estava e a velha quinou. Morreu. Quando foram vestir a mulher, que ela morreu e tiveram que lhe vestir, aquela coisa toda, diz que o corpo dela era tal e qual centeio. Toda picada com os barros de centeio, que a outra tinha emprestado.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
2008
Place of collection
Santa Cruz, ALMODÔVAR, BEJA
Collector
Cátia Jeremias (F)
Informant
Teresa Nobre Pontes (F), 74 y.o., born at Santa Cruz (ALMODÔVAR),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Convinced Belief
Classifications

Bibliography