APL 458 As bruxas da várzea do farelo
O meu avô Joaquim Veiga trabalhava numa fazenda na Várzea do Farelo, que era do senhor Nobre de Monchique e ‘inda há-de ser da mesma família.
Um dia o patrão chamou o meu avô e disse-lhe Joaquim tu vais trazer de lá duas cargas de trigo.
Ora naquele tempo o carrego era todo feito em animais. Ele carrega dois machos e quando ia a partir da Várzea do Farelo passou por uma descasca e umas mulheres meteram-se com ele. Então vocemecê abala a esta hora e nã tem medo das bruxas?
Qual bruxas nem bruxas!
Ai, que vocemecê dá com alguma bruxinha...
Diz ele assim, ora e eu vou-me adivertindo com ela o caminho inteiro, qu’isto ‘inda é lónge daqui até Monchique.
Meteu—se a caminho ‘inda nã era bem de noite. Mas assim que anoiteceu, quando ia a passar num sítio chamado Vale Furtados, perto do Descampadinho, os machos travam-se, nã davam andado.
Ele aflito, mas então o que é que os machos têm? Ia olhar as patas dum, nã via nada; vinha ao pé do outro, a mesma coisa.
E de repente cerra-se um mato tã grande, tã grande, que os animais nã davam ido p‘ra lado nenhum. O qu’ é que ele havia de fazer? Achou melhor ficar sossegado até que viesse a manhã. Ia amanhecendo ouviu um galo cantar e fez o mesmo que dizia em casa: Bendito, louvado e adorado seja o Santíssimo Sacramento do Altar. Aí, os machos começaram logo a andar da melhor maneira, e lá foram.
Quando ele voltou pr’a buscar mais grão, diz uma das tais mulheres então e que tal se deu com as bruxas pelo caminho? Ora, respondeu ele, dei-me bem, fui acompanhado todo o caminho. Nã quiz dizer que lhe tinha acontecido aquilo. Mas nunca mais quiz passar de noite por aquela estrada.
- Source
- TENGARRINHA, Margarida Da Memória do Povo Lisbon, Colibri, 1999 , p.27-28
- Place of collection
- Mexilhoeira Grande, PORTIMÃO, FARO
- Informant
- Maria Duarte Veiga (F), born at Mexilhoeira Grande (PORTIMÃO),