APL 1731 [As Bruxas]
Acontece qu’um dia benho da rua e chego a minha casa (eu nem comia p’ra que a minha mãe não sentisse o eu chegar, mas nada lhe fazia para esconder a minha chegada à entrada pró quarto, tossia sempre quando eu passava).
Então, acontece que fui, deitei-me. Antes de dormir, eu tinha que ler uma pequena leitura p’ra cansar os olhos e dormir tranquilo.
Acontece que estava nessa leitura e passado um bocadinho cansaro-se-m’os olhos e eu apaguei a luz.
Deitei-me, virei-me cu olhar p’ra parede, senti cair em cima do meu telhado umas areias e aquilo começou a engrossar, a engrossar, a engrossar, que mais parecia uma trovoada de saraiva, uma coisa forte. Eu fiquei muito admirado.
Cu essa queda e foi passando, passando, passando, passando e sentia no meio desse barulho da saraiva ou areia, um ladrejar de duas mulheres que faziam assim:
- Brum… rum…
E aquilo passou, abrandou e eu esperei mais uns dez minutos que aquilo voltasse a vir. Num voltou.
Então, encomodei a minha falecida mãe, que estava na cama.
- Benha cá!
Levantou-se em camisa, veio ter comigo e perguntou-me:
- Que é que tens?
- Aconteceu isto assim, assim…
- Vocês não viram nada?
- Não.
- Fazia um barulho assim, uma saraiva muito forte, ouvia uma fala de mulheres como se estivessem a gritar e assim passou.
E a minha mãe disse-me assim:
- São as “putas” das bruxas! Olha, torce o “quelhão esquerdo”!
- Source
- AA. VV., - Literatura da tradição oral do concelho de Vila Real s/l, UTAD / Centro de Estudos de Letras (Projecto: Estudos de Produção Literária Transmontano-duriense),
- Place of collection
- Guiães, VILA REAL, VILA REAL
- Informant
- António Varandas Real (M), 67 y.o., Guiães (VILA REAL),