APL 1189 As Bruxas

As bruxas podem ser mulheres que fazem «mal» aos animais, às culturas ou às pessoas com o seu «mau olhado». Fazem adoecer, perder o apetite, entristecer e até morrer (sic).
 É preciso então que as mesmas bruxas ou outras benzelhonas tirem o «mau olhado» com as rezas e benzeduras próprias, o que por vezes conseguem, por mero acaso, por sugestão ou por meio de algumas mezinhas caseiras.
 Afirmam também os supersticiosos aparecerem com frequência galinhas pretas, cães e borregos que, quando vão agarrá-los ou a bater-lhes, desaparecem «por serem bruxas ou o diabo».
 Tanto num caso como noutro, as histórias que o povo relata são pouco ou nada convincentes devido sobretudo à sua excessiva ingenuidade.
 Conta-se, por exemplo, que um homem vinha, de noite, de Unhais da Serra, num carro de bois e, pelo caminho, viu uma fogueira no meio da estrada, à volta da qual as bruxas dançavam. Com elas estava um garoto que era o diabo.
 O ganhão, ao chegar ao local, pediu às mulheres bruxas para lhe deixarem assar umas febras. Elas consentiram, e ele pôs a carne nas brasas. O garoto começou logo a deitar cinza para cima dela e lá ficou no lume estragada. O homem, ao ver aquele disparate, vai de bater no rapazito.
 As bruxas, ausentando-se dali, foram aos bois, abafaram-lhes os chocalhos e viraram-nos ao contrário, para se vingarem.
 O ganhão, tendo já «calcorreado» aquele longo e dificil caminho de Unhais, sem querer, para lá voltou, por os bois estarem naquela direcção.
 Quando chegou, já pela manhã, perguntou a uma mulher que sítio era aquele. Ela respondeu que era Unhais.
 Ele explicou-lhe então que, ainda no dia anterior, lá fora e que agora voltara porque as bruxas, que encontrou, lhe viraram os bois, para trás — efeito dos copos de vinho que teriam acompanhado as febras...

Source
RODRIGUES, Maria da Ascensão Carvalho Ferro, Cova da Beira Covilhã, Edição do Autor, 1982 , p.133-134
Place of collection
Ferro, COVILHÃ, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography