APL 469 A viúva dos montes de alvor

Esta foi verdadêra, qu’eu vou contar.
 Havia uma viúva (era dos Montes) e então havia um senhor que era viúvo e tinha alguma coisa, e a mulher o que ela havia de se lembrar? Pôs à ideia que havia de casar com aquele viúvo. E o viúvo ia lá a casa dela, ia namorar. Más um belo dia, o qu’ela havia de se lembrar, fez dois bolos que deu ao fulano, ó homem que ia lá namorá-la. Erem uns bolos com uma mêzinha que ela lá sabia.
 Más o homem foi muito esperto e disse assim, lá p’ra ele, más atão, que gêto ela vir-me dar estes bolos? ele pega nos bolos, meteu os bolos à alzibeira e chega à alpendrada e deu os bolos ó burro.
 Ora o burro, depois de comer os bolos arrebentou a arreata e tudo e veio à casa da mulher.Veio à casa da mulher, meteu-lhe a cabeça dentro do postigo, que havia antigamente os postigos da porta, e fazia era zurrar pela mulher. Pois, o burro! Porque os bolos eram p’ro homem ter ceguêra por ela e afinal quem teve foi o burro.
 Pois, foi verdadêro, ali nos Montes. O homem na era daqui d’Alvor, era da Mexilhoêra. E quem foi, foi uma avó da mulher do mé tio Zê Francisco, é que fez isto. Sim senhora, a mulher, aquilo qu’ela queria era o homem, tinha bens, era rico e ela queria casar com ele. Más ele foi esperto, deu os bolos ó burro, ora o burro teve ceguêra pela mulher. Como quem diz que aquilo fez efeite, mas foi no burro.

Source
TENGARRINHA, Margarida Da Memória do Povo Lisbon, Colibri, 1999 , p.40-41
Place of collection
Alvor, PORTIMÃO, FARO
Informant
Deonilde dos Santos Martins (F), born at Alvor (PORTIMÃO),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Convinced Belief
Classifications

Bibliography